“O Cabeleira”, escrito por Franklin Távora, é um dos marcos do romance regionalista brasileiro do século XIX. A obra retrata o sertão nordestino do século XVIII, destacando as dificuldades, a vida rude e a violência típica da região. A história é inspirada em fatos reais e gira em torno da vida de José Gomes, conhecido como Cabeleira, um temido cangaceiro.
A narrativa começa apresentando o pai de José Gomes, conhecido como Joaquim Gomes, ou João Cabeleira, um homem rude e envolvido no mundo do crime. Desde cedo, o menino José é introduzido à vida de violência, aprendendo com o pai os caminhos do cangaço, dos roubos e das emboscadas.
Apesar do ambiente hostil em que cresce, há momentos em que o jovem demonstra certa inclinação para fugir daquela vida. Contudo, a influência paterna e a falta de oportunidades acabam por arrastá-lo definitivamente para o mundo do crime.
A obra explora o sertão pernambucano com maestria, descrevendo paisagens áridas, as dificuldades das populações locais e a precariedade das leis em regiões tão distantes dos grandes centros. Nesse ambiente, a figura do cangaceiro surge quase como uma resposta à ausência do Estado e das injustiças sociais.
Ao longo da trama, Cabeleira se torna uma figura temida. Junto com seu pai, realiza diversos assaltos, saques e assassinatos, aterrorizando vilarejos e fazendas. O autor, no entanto, não romantiza essa vida; pelo contrário, apresenta os cangaceiros como fruto das condições sociais, da miséria e da opressão.
Em meio aos episódios de violência, há momentos que revelam o lado humano de Cabeleira. Há passagens que mostram seus conflitos internos, seus questionamentos sobre a vida que leva e até algumas tentativas, ainda que frustradas, de mudar seu destino.
A relação entre pai e filho é central na trama. João Cabeleira é a representação da degradação moral, enquanto José, embora reproduza os atos do pai, em alguns momentos ensaia uma resistência, dando ao leitor a esperança de que talvez ele consiga romper com aquele ciclo.
Por fim, a história caminha para um desfecho trágico, como é comum nas narrativas de banditismo. A perseguição das autoridades se intensifica, e a vida de crimes de Cabeleira e seu pai chega ao fim, deixando um forte alerta sobre as consequências da marginalidade e da falta de alternativas para os mais pobres.
Portanto, “O Cabeleira”, de Franklin Távora, não é apenas um relato sobre a violência do sertão, mas também uma crítica social poderosa, que denuncia as desigualdades, a ausência do Estado e o ciclo de miséria que empurra gerações para o crime, muitas vezes sem chance de escolha.