Na breve e moralista fábula “O Lobo e a Cegonha”, Esopo apresenta uma situação simples, mas repleta de significado, centrada na relação entre um predador astuto e uma ave prestativa. A história começa quando um lobo, após devorar sua refeição com pressa e ganância, acaba com um osso preso na garganta, o que o faz sofrer terrivelmente.
Desesperado, o lobo sai em busca de ajuda. Ele promete uma grande recompensa a quem conseguir livrá-lo do osso. A cegonha, com seu longo bico, é a única capaz de realizar a tarefa com precisão. Movida pela compaixão — ou pela esperança de recompensa — ela aceita o desafio, introduz seu bico na garganta do lobo e remove o osso.
Ao terminar o trabalho com sucesso, a cegonha pede a recompensa prometida. O lobo, porém, ri da ave e responde que ela já deveria se dar por satisfeita por ter saído viva da boca de um predador. Dizer que não a devorou já seria mais do que suficiente como pagamento, segundo ele.
O episódio revela a ingratidão e a malícia daquele que se aproveita da boa vontade alheia. A cegonha, embora tenha agido com bondade e competência, é enganada por confiar em quem não tinha honra nem caráter. Esopo, como de costume, usa animais para representar comportamentos humanos.
A crítica principal da fábula recai sobre a confiança depositada em pessoas desonestas. O lobo representa aqueles que pedem ajuda em tempos de necessidade, mas não têm intenção de retribuir ou reconhecer o esforço de quem os socorre. Ele age com crueldade e esperteza, ignorando princípios básicos de gratidão.
Já a cegonha simboliza o indivíduo bem-intencionado, talvez até ingênuo, que se envolve por empatia ou esperança de justiça, mas acaba sendo traído. Esopo, assim, adverte seus leitores — especialmente os mais jovens — sobre os perigos de confiar cegamente em promessas feitas por gente de má índole.
A lição moral da história é clara e direta: não se deve esperar recompensa daqueles que vivem da trapaça e da desonestidade. É uma advertência contra o altruísmo ingênuo diante da maldade. A bondade deve ser guiada pela prudência.
Apesar de curta, essa fábula ecoa temas recorrentes em Esopo: a esperteza, a ingratidão, a justiça e o equilíbrio entre ajudar e proteger-se. Seu valor pedagógico é inegável, sendo usada há séculos para ensinar ética, prudência e senso crítico a crianças e adultos.
Em suma, “O Lobo e a Cegonha” é uma fábula de impacto duradouro, que ensina a desconfiar de quem promete demais, especialmente se esse alguém já demonstrou falta de caráter. Através de uma linguagem simples e simbólica, Esopo mais uma vez alerta para as complexidades das relações humanas.