A Invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick, é uma narrativa encantadora que mistura palavras e imagens de forma inovadora, conduzindo o leitor pela mágica união entre literatura e cinema. A história gira em torno de Hugo, um garoto órfão que vive escondido numa estação de trem em Paris nos anos 1930, onde se dedica secretamente à manutenção dos relógios da estação, tarefa que herdou de seu tio desaparecido.
Hugo carrega consigo a lembrança de seu pai, um relojoeiro apaixonado por máquinas e cinema, que morreu em um incêndio. Antes de falecer, seu pai havia encontrado um autômato quebrado num museu, e juntos planejavam consertá-lo. Após a morte do pai, Hugo se agarra à esperança de restaurar o autômato, convencido de que a máquina contém uma mensagem secreta que poderá mudar sua vida.
Para reunir as peças necessárias à restauração, Hugo passa a roubar peças de uma loja de brinquedos na estação, gerenciada por um velho misterioso chamado Georges. Um dia, o homem descobre Hugo furtando e o confronta, confiscando um caderno cheio de anotações do garoto. É nesse ponto que a história começa a revelar seus segredos mais profundos e emocionantes.
Com a ajuda de Isabelle, afilhada de Georges, Hugo embarca numa jornada de descobertas que envolve o passado do velho e as origens do autômato. Juntos, eles desvendam a verdadeira identidade de Georges, que é ninguém menos que Georges Méliès, um dos pioneiros do cinema, agora esquecido e amargurado pelos fracassos e perdas que sofreu ao longo da vida.
A narrativa ganha contornos ainda mais mágicos quando o autômato, finalmente consertado, desenha uma cena do filme Viagem à Lua, de Méliès, revelando o elo entre o garoto e o passado do cineasta. A imagem serve como uma chave que destranca memórias há muito tempo enterradas, e a história pessoal de Georges começa a emergir com força e emoção.
A trama se transforma então numa ode ao cinema, à memória e à capacidade humana de criar beleza mesmo a partir da dor. Hugo, em sua obstinação, ajuda a restaurar não apenas uma máquina, mas a dignidade de um artista esquecido, além de encontrar seu próprio lugar no mundo ao sair da invisibilidade em que vivia.
A forma como Brian Selznick constrói a narrativa — alternando páginas de texto com ilustrações cinematográficas — reflete o conteúdo da história, fundindo linguagem literária e visual em uma experiência única. O livro presta homenagem ao cinema mudo e ao poder das imagens em contar histórias sem palavras.
A Paris retratada no livro é romântica e melancólica, refletindo o sentimento de perda que permeia as vidas dos personagens. O autor também aborda temas como o abandono, a solidão, a busca por pertencimento e o papel da arte na transformação da vida humana. Hugo, embora apenas um menino, revela uma força interior admirável, movido pela esperança e pela lembrança do pai.
A Invenção de Hugo Cabret é, acima de tudo, uma celebração da imaginação. Ao final da história, Hugo não apenas descobre seu destino como mágico e artista, mas também proporciona uma redenção emocionante a Georges Méliès. A obra de Brian Selznick é uma carta de amor ao passado, aos inventores, aos sonhadores e àqueles que acreditam que mesmo as engrenagens quebradas da vida podem voltar a funcionar com um pouco de cuidado, coragem e fé.