A Luz Difícil, de Tomás González, é um romance delicado e profundo que aborda temas como a dor, a perda, a memória e a resiliência. A história é narrada por David, um pintor idoso que perdeu quase completamente a visão e relembra os acontecimentos que marcaram sua vida, especialmente a decisão de seu filho Jacobo de pôr fim ao próprio sofrimento. O romance se desenvolve como uma jornada introspectiva, em que David revisita momentos de felicidade e tragédia, tentando encontrar sentido nas sombras que o cercam.
O núcleo da narrativa gira em torno da escolha de Jacobo, que ficou gravemente debilitado após um acidente de carro e decidiu que não queria viver com dor constante. Com o apoio da família, ele viaja para Medellín, onde a eutanásia é possível, e se prepara para sua despedida. Acompanhamos os últimos dias dessa jornada dolorosa, cheios de amor, desespero e aceitação, enquanto David, sua esposa Sara e os outros filhos lidam com a iminência da perda.
O romance alterna entre passado e presente, entre a luz da juventude e a escuridão da velhice e da cegueira. As memórias de David são pontuadas por lembranças de momentos simples, mas luminosos, como a vida familiar em Nova York e os anos passados com Jacobo antes do acidente. A narrativa de Tomás González é marcada por uma escrita sensível e poética, que transforma até mesmo a tristeza em beleza.
O processo de aceitação da morte de Jacobo não é imediato. O protagonista se vê imerso em uma luta interna entre o desejo de preservar a vida do filho e o respeito pela sua decisão. Ele enfrenta a impotência diante do sofrimento alheio e a necessidade de permitir que Jacobo parta com dignidade. Essa luta silenciosa se reflete na sua relação com a arte, que sempre foi sua forma de compreender o mundo, mas que agora se torna cada vez mais inalcançável devido à perda da visão.
Ao longo da narrativa, David também reflete sobre o amor e as relações familiares. Sua esposa Sara, com sua força silenciosa, compartilha o fardo da dor, enquanto seus outros filhos oferecem apoio de diferentes formas. Apesar da tragédia, o romance não se prende ao sofrimento absoluto; há também momentos de ternura, lembranças felizes e um senso de continuidade que permeia a história.
A cegueira progressiva de David se torna uma metáfora para a forma como ele aprende a enxergar o mundo de maneira diferente. Mesmo sem a visão física, ele descobre que a memória e a arte continuam vivas dentro dele, permitindo-lhe encontrar um novo tipo de luz na escuridão. A jornada do protagonista não é apenas sobre a perda de Jacobo, mas também sobre como seguir em frente sem se perder no luto.
A narrativa de Tomás González se destaca pela sua prosa contida e ao mesmo tempo poderosa. O autor evita exageros dramáticos, optando por uma abordagem sensível e contemplativa, onde cada palavra carrega um peso emocional. O resultado é um livro que toca profundamente o leitor, oferecendo uma visão honesta e comovente sobre a dor e a superação.
No desfecho, David compreende que a luz pode ser encontrada mesmo nos momentos mais difíceis. Sua jornada o leva a aceitar que a vida continua, mesmo quando aqueles que amamos se vão. O romance não propõe respostas fáceis para a dor, mas sugere que a memória, o amor e a arte são formas de manter aqueles que partiram vivos dentro de nós.
A Luz Difícil é um livro intenso e emocionante, que trata da morte com sensibilidade e da vida com esperança. Tomás González constrói uma história bela e comovente, mostrando que, mesmo na escuridão, ainda é possível enxergar a beleza da existência.