“No Vale de Ezequiel”, de Priscila Antunes Correia, é uma obra intensa e profundamente espiritual que mergulha nas metáforas bíblicas para explorar os desafios da fé, da restauração e da vida cristã. Inspirado na famosa passagem do livro de Ezequiel, capítulo 37 — o vale de ossos secos — o romance desenvolve uma narrativa que transcende o literal e convida o leitor à reflexão pessoal sobre recomeços e milagres espirituais.
A história acompanha personagens em crise, que representam diferentes faces do desespero humano: perda, abandono, ausência de sentido e quebra de propósitos. No centro da narrativa, há uma figura que espelha o próprio profeta Ezequiel — alguém chamado a falar vida onde só há morte, e a confiar na promessa divina quando tudo parece perdido. A fé, nesse cenário, é o único fio que liga a terra devastada ao céu em silêncio.
Priscila Antunes Correia constrói o enredo com base em diálogos densos e momentos contemplativos. A cada capítulo, o leitor é conduzido por cenários áridos — tanto físicos quanto emocionais — que simbolizam o vale, mas também por lampejos de esperança e visões espirituais que iluminam o caminho dos personagens. O ritmo é cuidadosamente dosado, alternando entre dor e revelação, silêncio e voz profética.
A autora faz uso de imagens bíblicas de forma poética e poderosa. O vale de ossos secos, em sua versão literária, torna-se espaço de provação e também de milagre. A restauração é vista como um processo — nunca imediato, mas resultado da obediência, da persistência na oração e da escuta sensível à voz de Deus. Esse processo reflete a experiência de muitos leitores que enfrentam seus próprios desertos interiores.
Além da dimensão espiritual, o livro também aborda questões humanas muito concretas: relacionamentos rompidos, vícios, violência e abandono. A força da obra está justamente na capacidade de unir essas esferas — o sagrado e o cotidiano — de forma sensível e honesta. A fé é retratada não como fórmula mágica, mas como uma jornada de confiança em meio à dor.
Um ponto alto do romance é a forma como Priscila Antunes Correia desenvolve o clímax da história. Quando tudo parece estar perdido, a intervenção divina acontece — não necessariamente como espetáculo, mas como sopro de vida, ecoando a pergunta feita a Ezequiel: “Podem estes ossos tornar a viver?”. A resposta, que no início é hesitante, ao final torna-se certeza vivida.
A autora escreve com uma linguagem acessível, mas repleta de força simbólica. Os leitores encontram ecos de suas próprias batalhas e são convidados a perceber que, mesmo em seus vales mais escuros, existe a possibilidade de renascimento. As cenas finais são marcadas por um senso de renovação e missão, apontando para um futuro que só é possível com fé.
O livro também possui um propósito pastoral. Serve como instrumento de encorajamento para quem está desanimado, desviado da fé ou se sente emocionalmente “seco”. A leitura, nesse sentido, vai além do literário — torna-se quase devocional, tocando diretamente o coração do leitor com promessas de esperança.
“No Vale de Ezequiel” é, portanto, um convite à ressurreição pessoal. Priscila Antunes Correia transforma uma imagem bíblica poderosa em um romance inspirador, que fala com verdade e sensibilidade sobre a dor humana e o poder restaurador de Deus. Uma obra para ser lida com o coração aberto e os olhos voltados para o alto.