Em “Cartas para um Planeta Esquecido”, Lígia Monteiro constrói uma narrativa poética e inquietante que transcende os limites do tempo, da geografia e até da linguagem. O livro é composto por missivas imaginárias enviadas a um mundo que já não escuta, um planeta que se perdeu em meio ao progresso desenfreado, à indiferença humana e à erosão da memória coletiva. Não se trata apenas de um lugar físico — esse planeta esquecido é também símbolo daquilo que fomos, do que poderíamos ter sido e do que deixamos para trás em nome da velocidade, do lucro e da modernidade cega.
As cartas, escritas com sensibilidade lírica e crítica pungente, percorrem temas como a destruição ambiental, o vazio das relações humanas, a perda do sagrado, a urgência do silêncio e a fragilidade da existência. Monteiro escreve como se cada palavra pudesse acordar consciências, como se ainda fosse possível reverter o esquecimento — mas sem ilusões fáceis. A autora traça um caminho entre o lamento e a resistência, entre a nostalgia por um tempo mais humano e a esperança tênue de reconexão com a Terra e com o outro. Não há respostas diretas, apenas reflexões lançadas ao cosmos como sementes, com a esperança de que brotem em algum canto da alma de quem lê.
Há um sentimento constante de deslocamento e exílio, como se as vozes dessas cartas pertencessem a sobreviventes do futuro, ou fantasmas do passado, tentando dialogar com um presente que se recusa a escutar. A linguagem, delicadamente construída, alterna entre a contemplação e a denúncia, e o leitor é convocado não como mero espectador, mas como parte do drama universal que se desenrola na superfície ferida do planeta. A leitura evoca, ao mesmo tempo, a solidão cósmica de quem envia sinais para o espaço e a intimidade quase confessional de quem escreve cartas de amor a um mundo que se perdeu.
“Cartas para um Planeta Esquecido” é, acima de tudo, um apelo à consciência, um exercício de memória e uma tentativa de reconciliação com a essência das coisas. Com profunda humanidade, Lígia Monteiro transforma o luto pelo mundo em poesia — e a poesia em gesto de resistência.