“A Tenda Vermelha”, de Anita Diamant, é um romance histórico que reconta a história bíblica de Diná, a única filha de Jacó e Lia, que aparece brevemente no Gênesis. No entanto, em vez de se concentrar nos relatos patriarcais da Bíblia, Diamant dá voz às mulheres da história, construindo um relato íntimo e emocionante sobre maternidade, irmandade e resistência feminina.
A narrativa é contada pela própria Diná, que relembra sua vida desde a infância até os eventos que a levaram a um destino trágico e muitas vezes esquecido. Criada na tenda vermelha – um espaço sagrado onde as mulheres se reuniam durante a menstruação e o parto – Diná cresce cercada por suas mães: Lia, Raquel, Bila e Zilpa, as esposas de Jacó. Elas a educam, ensinam-lhe os segredos femininos e compartilham suas histórias, criando um universo rico em rituais, laços de afeto e sabedoria ancestral.
Desde pequena, Diná aprende sobre ervas medicinais, parto e o poder das mulheres em um mundo dominado pelos homens. Ela se torna uma parte essencial desse círculo feminino, sendo treinada por sua tia Raquel, que é uma talentosa parteira e curandeira. O que começa como uma infância cheia de amor e proteção, no entanto, é interrompido quando Diná se apaixona pelo príncipe Shechem, filho de Hamor, e se envolve em uma relação proibida.
No relato bíblico, Diná é retratada como uma vítima de violência e seu casamento com um príncipe estrangeiro se torna a justificativa para um banho de sangue promovido por seus irmãos, Simeão e Levi, que matam todos os homens da cidade de Shechem em vingança. Já na versão de Anita Diamant, essa narrativa é desconstruída e reformulada: em vez de um sequestro e violência, Diná e o príncipe vivem um verdadeiro amor, mas são brutalmente separados pelos irmãos de Diná, que, com sede de poder e vingança, massacram os homens da cidade sob o pretexto de protegê-la.
Depois desse evento traumático, Diná é levada para o Egito, onde enfrenta a dor da perda e a necessidade de recomeçar. Lá, ela encontra refúgio e se reinventa como parteira, usando o conhecimento herdado de suas mães para sobreviver e se firmar como uma mulher forte e independente em uma sociedade dominada por homens. Ao longo da história, a “tenda vermelha” se torna um símbolo do poder feminino, do conhecimento transmitido entre gerações e da resistência das mulheres em um mundo patriarcal.
A narrativa se destaca por trazer uma nova perspectiva sobre um personagem quase esquecido da Bíblia, construindo uma história rica e emocionante que celebra as mulheres, suas vozes e suas experiências. Além disso, a obra resgata o espaço simbólico da Tenda Vermelha, que representa não apenas um local de refúgio, mas também de troca de conhecimentos, fortalecimento dos laços femininos e transmissão de histórias e saberes entre as mulheres.
O livro de Anita Diamant é um poderoso relato de empoderamento feminino e resgate histórico, dando a Diná uma trajetória rica e significativa que a Bíblia nunca lhe concedeu. Ao colocar as mulheres no centro da narrativa, a autora permite que suas experiências e sentimentos sejam ouvidos, transformando “A Tenda Vermelha” em uma obra memorável sobre a força e a resiliência feminina.