“Entre Trilhos e Estações”, de Gustavo Farias Lima, é uma obra que combina poesia, nostalgia e reflexões profundas sobre os ciclos da vida. Situado em um cenário ferroviário encantador e repleto de simbolismos, o romance acompanha a jornada de Joaquim, um maquinista aposentado que decide revisitar as antigas estações onde trabalhou, cada uma delas representando um momento crucial de sua trajetória.
A narrativa se inicia com Joaquim embarcando em um trem simbólico, que mistura realidade e memória, ao mesmo tempo em que explora o impacto do tempo sobre sua vida e seus relacionamentos. As estações que ele visita são mais do que pontos físicos: cada parada é uma metáfora para escolhas, encontros e despedidas que moldaram seu caminho.
Na primeira estação, chamada Esperança, Joaquim relembra sua juventude cheia de sonhos e ambições. É lá que ele revisita o entusiasmo inicial por sua profissão e os laços formados com outros maquinistas e ferroviários. Gustavo Farias Lima constrói esse trecho com uma linguagem leve, que transmite a euforia e a inocência de um início promissor.
Já na segunda estação, Desencontro, o tom muda completamente. Joaquim reflete sobre as perdas e erros cometidos ao longo dos anos, como o afastamento de sua família e o rompimento de amizades importantes. Essa parte da obra é carregada de emoção, mostrando a habilidade do autor em retratar a complexidade das relações humanas e a melancolia que acompanha o arrependimento.
Ao longo da jornada, Joaquim encontra passageiros que representam figuras de seu passado, como sua falecida esposa, que aparece de forma etérea, e um antigo colega que guarda segredos não revelados. Esses encontros misturam realidade e imaginação, criando uma narrativa onírica que desafia o leitor a distinguir o que é concreto e o que pertence à memória do protagonista.
A estação Renascimento marca um ponto de virada. Inspirado por lembranças de momentos felizes e por conselhos das pessoas que encontra, Joaquim percebe que ainda é possível transformar o presente, mesmo quando o passado pesa. O autor transmite aqui uma mensagem de superação e aceitação, sem deixar de lado o realismo que permeia toda a obra.
Gustavo Farias Lima utiliza descrições ricas e vívidas dos trilhos, trens e paisagens que cercam as estações, criando uma ambientação quase cinematográfica. Cada detalhe do cenário reflete o estado emocional de Joaquim, do abandono e ferrugem de algumas estações ao brilho de outras que ainda recebem passageiros.
Na última parada, chamada Destino, Joaquim alcança uma compreensão profunda de sua existência. Ele descobre que os trilhos de sua vida, embora cheios de curvas e bifurcações, o levaram a um destino de paz e sabedoria. O final é ao mesmo tempo melancólico e inspirador, deixando o leitor com uma sensação de encerramento e renovação.
“Entre Trilhos e Estações” é uma narrativa que transcende o simples contar de uma história. Com uma prosa lírica e repleta de simbolismos, Gustavo Farias Lima cria uma obra que ressoa com qualquer leitor que já tenha refletido sobre os caminhos percorridos na vida. É um livro que emociona e instiga, lembrando-nos de que, mesmo em meio às paradas mais difíceis, sempre há novos destinos a alcançar.