A obra Escravidão, de Laurentino Gomes, apresenta um panorama profundo da formação histórica do Brasil a partir do tráfico transatlântico de africanos. O autor explora como essa prática se tornou o alicerce econômico e social do país por mais de trezentos anos. Ele revela com clareza a brutalidade do sistema escravista e suas consequências duradouras. Também analisa a cumplicidade de autoridades, comerciantes e elites na manutenção desse modelo. O livro busca iluminar as raízes estruturais das desigualdades que persistem até hoje.
Ao longo dos volumes, Gomes mostra como a escravidão foi estruturada de forma institucional e legal no Império português. Ele descreve o papel dos portos africanos, onde milhões de pessoas eram capturadas e negociadas. O autor destaca como redes comerciais internacionais lucravam com a exploração humana. A obra também evidencia a violência física e simbólica que marcava o cotidiano dos escravizados. Essa narrativa histórica ajuda o leitor a compreender o peso social dessa herança.
O livro apresenta histórias individuais que humanizam a tragédia coletiva da diáspora africana. Gomes traz relatos de resistência, espiritualidade e sobrevivência de pessoas escravizadas. Essas biografias demonstram como, apesar da opressão extrema, havia força, criatividade e construção cultural. A obra ainda revela o impacto dessas vidas na formação da identidade brasileira. O leitor é levado a enxergar personagens antes invisibilizados pela historiografia tradicional.
Os volumes abordam também o papel da Igreja, dos governos e das potências europeias no fortalecimento do tráfico. Gomes discute como interesses econômicos moldaram políticas que ampliaram a exploração. Ele descreve debates morais e religiosos que, embora existissem, raramente resultavam em mudanças reais. A obra mostra a lentidão das reformas e a resistência das elites. Isso reforça como a escravidão se consolidou como parte da cultura política da época.
Outro ponto importante é a análise da economia escravocrata e de sua influência na formação das cidades e do campo. O autor ilustra como fazendas, engenhos e portos dependiam da mão de obra africana. Ele descreve a criação de estruturas sociais hierarquizadas que privilegiavam poucos e marginalizavam muitos. A riqueza gerada serviu como base para o desenvolvimento de famílias poderosas. Essa dinâmica explica muitas desigualdades persistentes no presente.
Gomes também dedica espaço ao estudo da violência como mecanismo de controle e dominação. Ele revela como castigos, separação de famílias e vigilância constante eram ferramentas cotidianas. A obra explica que o medo era parte essencial da manutenção do sistema escravista. Ao detalhar essa brutalidade, o autor desmistifica visões romantizadas sobre o período. Assim, evidencia o caráter sistemático e institucional da repressão.
Nos capítulos relacionados ao século XIX, o autor examina o processo de abolição e suas contradições. Ele mostra como a pressão internacional e as mudanças econômicas influenciaram a quebra gradual do sistema. No entanto, destaca que a abolição ocorreu sem políticas de reparação ou inclusão. A liberdade veio acompanhada de abandono social para ex-escravizados. Isso gerou cicatrizes que ainda dominam debates contemporâneos.
Por fim, o livro convida o leitor a refletir sobre o impacto atual dessa história na sociedade brasileira. Gomes argumenta que o racismo estrutural nasce diretamente dessa herança escravocrata. A obra aponta a necessidade de reconhecer e enfrentar esse passado para construir um futuro mais justo. Ela promove uma compreensão crítica sobre identidade, cidadania e memória. Assim, Escravidão se torna um marco essencial na historiografia brasileira.

