“O Eco do Labirinto”, de Marina Costa Leme, é uma narrativa envolvente que mergulha profundamente nas complexidades da memória, da identidade e da busca por sentido em meio ao caos existencial. Com uma prosa lírica e introspectiva, a autora conduz o leitor por uma jornada interna repleta de simbolismos, espelhos quebrados e labirintos mentais, onde o eco não é apenas som, mas reverberação daquilo que fomos, somos e tememos ser.
A protagonista da obra, Clara, vive um processo silencioso de desmoronamento interior, atravessando a cidade como quem percorre um labirinto sem mapa. Após a morte misteriosa do pai — um arquiteto obcecado por simetria e silêncio — Clara vê-se obrigada a retornar à casa da infância, um casarão antigo repleto de corredores, portas trancadas e lembranças difusas. Nesse espaço quase onírico, realidade e alucinação se entrelaçam.
Ao reencontrar diários e plantas arquitetônicas deixadas pelo pai, Clara começa a questionar sua própria história e os significados ocultos na construção daquele lar, que mais parece um quebra-cabeça emocional. O eco no título ganha contornos mais profundos: trata-se da reverberação de segredos que insistem em retornar, como vozes que nunca foram verdadeiramente silenciadas.
Enquanto avança por esse labirinto físico e psíquico, Clara confronta figuras de seu passado — algumas reais, outras talvez projeções de sua própria mente fragmentada. Marina Costa Leme cria uma narrativa marcada por flashbacks sutis e jogos de linguagem, onde o tempo parece se dobrar sobre si mesmo, e as lembranças se tornam armadilhas ou saídas, dependendo do ponto de vista.
A autora também trabalha com temas como o luto, a hereditariedade emocional e a construção da identidade através das ausências. O pai, ainda que morto, é uma presença onipresente — um eco que conduz Clara a questionar até que ponto somos moldados por aqueles que nos criam e o que nos resta quando já não há quem escute nossa dor.
A linguagem de Marina Costa Leme é poética e precisa. Através de metáforas viscerais e imagens recorrentes — como espelhos, portas entreabertas e janelas cobertas por véus —, a autora constrói um universo denso e simbólico, onde cada elemento carrega um peso emocional e psicológico. A casa-labirinto torna-se metáfora da mente da protagonista e, por extensão, da condição humana.
Ao final da jornada, o leitor percebe que não se trata de encontrar uma saída, mas de aprender a escutar os próprios ecos — aceitar a fragmentação e acolher o que ficou pelo caminho. Clara, então, emerge transformada, não por ter resolvido todos os enigmas, mas por ter reconhecido a força de sua própria escuta interior.
“O Eco do Labirinto” é um romance de introspecção, com atmosfera sombria e delicada, que exige do leitor atenção plena e entrega emocional. Marina Costa Leme mostra maturidade literária ao criar uma narrativa que pulsa com sensibilidade e inquietação, como um sussurro que se repete nos corredores da alma.
A obra deixa marcas duradouras, como todo bom labirinto: não se sai dele sem carregar algo novo dentro de si. Um livro sobre o silêncio, sobre aquilo que tentamos esquecer e sobre a força de escutar o que ainda insiste em reverberar.