“O Largo da Palma”, de Adonias Filho, é uma obra marcada pela profundidade psicológica e pelo ambiente opressivo, que reflete os conflitos internos dos personagens e as transformações da sociedade baiana. O livro é uma reflexão sobre identidade, pertencimento e os embates entre tradição e modernidade.
A narrativa se passa em Salvador, na Bahia, especificamente no Largo da Palma, um espaço simbólico que representa tanto refúgio quanto prisão para seus habitantes. Ali se encontram personagens que carregam frustrações, medos e angústias existenciais.
O protagonista da obra é Gabriel, um homem que retorna ao Largo da Palma depois de anos afastado, buscando reencontrar suas raízes e compreender seu próprio passado. Sua volta, no entanto, é marcada pela percepção de que o lugar e as pessoas não são mais os mesmos — ou, talvez, quem tenha mudado tenha sido ele próprio.
Gabriel mergulha em reflexões profundas sobre sua infância, sua relação com a mãe, com a cidade e com as figuras que marcaram sua formação. Ele percebe que o Largo é mais do que um espaço físico; é um território da memória, carregado de simbolismos e lembranças.
Ao circular pelo Largo e rever antigos conhecidos, Gabriel se depara com um ambiente onde imperam o preconceito, a intolerância e as contradições sociais. As tensões entre o passado e o presente se tornam constantes, e ele percebe o quanto aquele espaço carrega marcas de dor, solidão e decadência.
Os personagens secundários, que vivem no Largo, são retratados como figuras que, embora fisicamente presentes, parecem condenadas à estagnação. São pessoas que vivem de lembranças, ressentimentos e sonhos não realizados, presos a uma existência sufocante.
Adonias Filho constrói uma narrativa marcada pela densidade psicológica, em que os monólogos internos de Gabriel revelam sua luta para se reconciliar com sua própria história. O Largo da Palma funciona como metáfora da alma do protagonista — um lugar de sombras, de vazios e de busca por sentido.
À medida que a trama avança, Gabriel percebe que sua tentativa de reencontro talvez seja, na verdade, uma fuga: da vida, das escolhas que não fez e das feridas que carrega. O Largo, com seu ambiente decadente, se torna um espelho de sua própria condição existencial.
Assim, “O Largo da Palma”, de Adonias Filho, é uma obra sobre memória, pertencimento e os dilemas existenciais que acompanham o ser humano. É, sobretudo, uma reflexão sobre como os espaços que habitamos moldam quem somos — e como, muitas vezes, também nos aprisionam em nossos próprios fantasmas.