“Jezabel”, de Marek Halter, é um romance histórico que reconta a vida de uma das figuras mais controversas da Bíblia: a rainha Jezabel. Filha do rei fenício Etbaal, Jezabel foi prometida em casamento a Acabe, rei de Israel, como parte de uma aliança política entre os dois reinos. Sua chegada à corte israelita marcou um período de intensas transformações políticas e religiosas, à medida que ela introduziu a adoração aos deuses fenícios, especialmente Baal e Astarte, em um reino tradicionalmente dedicado ao Deus de Israel.
Desde jovem, Jezabel foi educada para ser uma rainha forte e determinada. Crescendo na próspera cidade de Tiro, ela foi treinada para compreender a política, a diplomacia e a importância das alianças estratégicas. No entanto, ao ser enviada para Israel, um reino estrangeiro e culturalmente diferente, encontrou resistência imediata. Seu casamento com Acabe consolidou a paz entre os reinos, mas sua influência e suas crenças rapidamente geraram conflitos com os sacerdotes e profetas hebreus, especialmente com Elias, que se tornou seu maior opositor.
Ao assumir seu papel como rainha, Jezabel usou sua inteligência e determinação para consolidar seu poder. Ela incentivou a adoração a Baal, financiando templos e sacerdotes, o que desagradou profundamente os seguidores do Deus de Israel. A tensão entre as duas tradições religiosas se intensificou, culminando em confrontos diretos entre os profetas de Baal e os profetas hebreus. O episódio mais marcante desse embate foi o desafio no Monte Carmelo, onde Elias provou a supremacia de seu Deus e ordenou a execução dos sacerdotes de Baal, desferindo um golpe na influência de Jezabel.
A rainha, no entanto, não se deixou abater e continuou a exercer seu poder de forma impiedosa. Determinada a manter sua posição e a de seu marido, manipulou situações políticas, eliminou adversários e governou com uma autoridade implacável. Um dos episódios mais notórios de sua história foi a conspiração contra Nabote, um homem que se recusou a vender sua vinha ao rei. Jezabel tramou falsamente contra ele, resultando em sua execução e na tomada de sua propriedade, o que aumentou ainda mais o ódio do povo contra ela.
A influência de Jezabel foi além da política e religião; ela também moldou o reino através da cultura, das artes e da diplomacia. Contudo, sua presença tornou-se cada vez mais insustentável à medida que a oposição crescia. Após a morte de Acabe, seu filho Jorão assumiu o trono, mas não conseguiu manter a estabilidade do reino. O general Jeú, apoiado por forças dissidentes, iniciou uma revolta e marchou contra Jezabel, determinado a exterminar sua linhagem e pôr fim ao domínio fenício sobre Israel.
A queda de Jezabel foi dramática e simbólica. Cercada pelos inimigos, ela não fugiu nem se escondeu. Ao contrário, vestiu-se com trajes reais, maquiou-se e se posicionou em sua sacada, enfrentando Jeú com altivez. No entanto, seus próprios servos, temendo por suas vidas, a traíram e a atiraram da janela do palácio. Seu corpo foi deixado para ser devorado por cães, cumprindo a profecia de Elias sobre seu trágico fim.
O romance de Marek Halter reconstrói a trajetória de Jezabel não apenas como uma vilã bíblica, mas como uma mulher forte, determinada e visionária, cujo destino foi moldado por suas ambições e pelas forças políticas e religiosas que a cercaram. A obra questiona a visão tradicional de sua figura, trazendo nuances à sua personalidade e explorando os desafios de ser uma mulher de poder em um mundo dominado por homens e crenças rígidas.
Com uma narrativa envolvente e rica em detalhes históricos, “Jezabel” oferece uma nova perspectiva sobre uma das personagens mais marcantes da Antiguidade. Marek Halter transforma sua história em um épico fascinante sobre ambição, fé, paixão e queda, convidando o leitor a refletir sobre os desafios do poder e o preço da ousadia em desafiar tradições e dogmas.