“A Águia e a Coruja”, de Esopo, é uma fábula clássica que traz uma poderosa lição sobre confiança, vigilância e as consequências do orgulho. Com personagens simbolicamente opostos — a águia, associada ao poder, e a coruja, à sabedoria — a história revela o perigo da ingenuidade diante da força.
Na narrativa, a coruja e a águia, duas aves muito diferentes em hábitos e natureza, decidem firmar um pacto de amizade. Ambas prometem que jamais fariam mal aos filhotes uma da outra, e essa promessa, à primeira vista, parece estabelecer uma relação de respeito mútuo.
A coruja, no entanto, teme que seus filhotes sejam confundidos com presas pelas águias, por isso tenta descrevê-los à amiga: “Meus filhotes são os mais lindos da floresta. São diferentes de todos os outros — sua beleza os torna únicos.” A descrição, ambígua e subjetiva, acaba sendo o ponto central do problema.
A águia, ao caçar, encontra alguns filhotes em um ninho. Observa que são feios e disformes, e, por isso, não acredita que pertençam à coruja. Pensando que está respeitando o acordo, a águia devora as pequenas corujas sem culpa ou malícia.
Quando descobre o ocorrido, a coruja se desespera e acusa a águia de traição. A águia, por sua vez, diz que apenas seguiu o combinado e que jamais imaginou que aqueles filhotes fossem da amiga, pois estavam longe de ser belos como ela havia descrito.
A fábula, então, evidencia um mal-entendido gerado pela vaidade da coruja, que acreditava que suas crias eram as mais belas, sem perceber que sua percepção era moldada pelo amor de mãe — e não pela realidade. A águia agiu dentro do que lhe foi dito, mas guiada por seu julgamento frio e objetivo.
Esopo usa essa história para mostrar como o orgulho pode nos cegar. Muitas vezes, acreditamos que os nossos — filhos, ideias ou obras — são os melhores, e esquecemos que o mundo os verá com olhos diferentes. É um alerta contra a ilusão gerada pelo afeto e pela vaidade.
Outro ponto é a crítica à ingenuidade: confiar em pactos sem clareza pode resultar em tragédia. A fábula também nos lembra que nem sempre a amizade entre os diferentes é possível sem entendimento mútuo e comunicação precisa.
“A Águia e a Coruja”, como tantas fábulas de Esopo, termina com uma lição moral simples e impactante: “O amor nos impede de ver os defeitos daqueles a quem amamos.” Uma história curta, mas com ensinamentos eternos sobre percepção, amizade e prudência.