O livro Angústia, escrito por Graciliano Ramos, é uma das obras-primas do modernismo brasileiro, marcada por sua linguagem direta e pela profundidade psicológica. A narrativa acompanha Luís da Silva, um funcionário público que vive mergulhado em frustrações, ressentimentos e obsessões. A atmosfera do romance é carregada de tensão, refletindo não apenas a condição individual do protagonista, mas também os dilemas sociais e políticos do Brasil da década de 1930.
Desde o início, o leitor é colocado dentro da mente de Luís da Silva, que relata sua vida de maneira fragmentada, repleta de lembranças, medos e reflexões. A técnica de fluxo de consciência adotada por Graciliano Ramos dá à obra um tom intimista e perturbador, expondo a fragilidade emocional de um homem que se sente esmagado pelo mundo à sua volta. É uma narrativa que mistura memória e presente, em que a realidade se confunde com a percepção subjetiva do narrador.
A pobreza e a luta de classes são temas recorrentes em Angústia. Luís da Silva, apesar de ser alfabetizado e ter uma ocupação, não encontra ascensão social e sente-se constantemente humilhado. Sua condição reflete a desigualdade de um país marcado pela concentração de poder e pelas dificuldades das camadas populares. Graciliano retrata com precisão a sensação de impotência diante de uma sociedade que valoriza apenas os que detêm fortuna e prestígio.
O romance também mergulha em questões existenciais e na solidão do protagonista. Luís da Silva não consegue estabelecer relações afetivas sólidas e vive dominado pela insegurança. Sua paixão por Marina, vizinha mais jovem, torna-se obsessiva e acaba revelando o lado mais sombrio de sua mente. A relação é permeada por ciúme, desejo e frustração, levando o personagem a um estado psicológico ainda mais instável.
A figura de Julião Tavares, rival amoroso e representante da elite, simboliza tudo aquilo que Luís da Silva despreza e, ao mesmo tempo, inveja. Tavares encarna a superficialidade e o poder econômico, o que reforça o contraste com o protagonista, que se sente sufocado pela injustiça social. Esse antagonismo acaba se tornando o motor de um desfecho trágico, marcado por violência e culpa.
A linguagem de Graciliano Ramos em Angústia é seca, precisa e carregada de intensidade. Cada frase transmite o peso da opressão interna e externa vivida pelo narrador, criando uma atmosfera sufocante. Essa característica estilística contribui para o impacto emocional da obra, tornando o leitor cúmplice do sofrimento e das obsessões de Luís da Silva.
O título resume bem a essência do romance: uma sensação permanente de sufocamento, desespero e impotência. O autor não oferece soluções fáceis nem finais redentores, mas expõe a realidade nua e crua de um personagem que representa, em grande medida, o próprio drama humano diante da desigualdade social e da alienação existencial.
Assim, Angústia permanece como uma das mais importantes obras da literatura brasileira, tanto por sua força psicológica quanto por seu retrato social. Graciliano Ramos conseguiu unir crítica social e introspecção existencial em uma narrativa que continua atual, convidando o leitor a refletir sobre os limites do ser humano diante de uma sociedade excludente.