Em “O Triste Fim de Policarpo Quaresma,” Lima Barreto narra a história de um personagem idealista, o Major Quaresma, que é um nacionalista fervoroso e patriota brasileiro. Quaresma trabalha como funcionário público no Rio de Janeiro e, através de seu amor pelo Brasil, começa a se dedicar a diversas causas cívicas, incluindo a reforma da língua portuguesa e o estudo do tupi-guarani.
Policarpo Quaresma se torna um verdadeiro visionário, acreditando que a transformação do país pode ocorrer por meio da valorização das raízes culturais e da língua nativa. Ele decide plantar árvores brasileiras em suas terras, busca uma reforma na administração pública e até mesmo se alista no exército para lutar contra a Revolta da Armada, acreditando que é seu dever defender o país.
No entanto, a visão utópica de Quaresma entra em choque com a realidade, e ele é considerado um lunático por seus contemporâneos. A narrativa revela o choque entre o idealismo de Quaresma e a corrupção, burocracia e desinteresse dos políticos e das autoridades governamentais. Isolado e desiludido, Quaresma acaba sendo preso e condenado à loucura.
Na segunda metade do romance, vemos a queda gradual de Policarpo Quaresma em um estado de desespero e isolamento. Após ser considerado um perigo à ordem pública por suas ações idealistas, ele é internado em um hospital psiquiátrico, onde sofre com o desprezo das autoridades e a incompreensão de seus familiares. Sua fé inabalável na causa nacionalista e na restauração das tradições brasileiras o leva a um estado de delírio, agravando sua deterioração mental.
O autor, Lima Barreto, faz uso da sátira e da ironia para revelar as contradições e a hipocrisia da sociedade da época. Quaresma, o protagonista, é um exemplo vívido de como indivíduos idealistas podem ser marginalizados e desacreditados em um ambiente em que a realidade política e social parece irremediavelmente corrompida. O título do livro, “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, ressalta a inevitabilidade de sua tragédia pessoal, que simboliza o destino de muitos que se esforçam por promover mudanças significativas em um mundo que resiste a transformações profundas.
No entanto, o livro também serve como um alerta atemporal sobre o perigo de idealismos extremos e a necessidade de equilíbrio entre aspirações nobres e a capacidade de se adaptar ao ambiente circundante. A história de Policarpo Quaresma é um retrato complexo das lutas de um homem contra uma sociedade que muitas vezes não está pronta para abraçar sua visão de um Brasil melhor, lançando luz sobre questões de identidade, patriotismo e a busca de um ideal que muitas vezes termina em tragédia.
O livro é uma crítica mordaz à sociedade brasileira da época, denunciando a falta de compromisso com a cultura e a identidade nacionais, bem como a corrupção e a ineficiência do governo. O triste fim de Policarpo Quaresma simboliza a tragédia do idealismo em um ambiente marcado pelo ceticismo e pela incapacidade de mudança.
Lima Barreto tece uma narrativa cativante que explora a luta de um indivíduo contra a apatia e a inércia de sua sociedade, culminando em um desfecho trágico que questiona as possibilidades de transformação social e a sobrevivência do idealismo em um mundo marcado pelo pragmatismo e pela corrupção.