A Oitava Vida (para Brilka), de Nino Haratischwili, é um romance épico que acompanha a história de seis gerações da família Jashi, originária da Geórgia. A narrativa se estende do início do século XX ao início dos anos 2000, atravessando guerras, regimes totalitários e transformações sociais profundas. A autora combina ficção e fatos históricos de maneira sensível. Cada personagem carrega marcas do passado coletivo. O livro revela como destinos individuais se entrelaçam com o fluxo da história.
A obra começa com o patriarca da família, um fabricante de chocolate cuja receita especial se torna símbolo de poder e tragédia. O chocolate, quase mítico, acompanha as gerações como um presságio. A Geórgia e a Rússia aparecem como cenários de conflitos e revoluções. O impacto da ascensão soviética transforma profundamente a vida dos personagens. A autora mostra como escolhas pessoais são moldadas pelo contexto político.
Haratischwili constrói personagens complexos e emocionalmente intensos. Suas trajetórias revelam paixões, perdas e resistências. A violência e os traumas do século marcam cada geração de modo singular. Contudo, há também momentos de amor e esperança. A família Jashi se torna metáfora de sobrevivência diante do caos.
O romance destaca especialmente a força das mulheres da família. Elas enfrentam opressões sociais, violência e limitações impostas pela história. Cada mulher carrega uma luta silenciosa, mas capaz de gerar mudanças profundas. Suas vozes rompem o silêncio imposto por décadas de sofrimento. Assim, a narrativa valoriza o protagonismo feminino.
A relação entre memória e identidade permeia toda a obra. Os personagens tentam compreender quem são à luz do passado que os persegue. A história familiar funciona como herança e fardo. Haratischwili mostra como recordar pode ferir, mas também curar. A memória assume papel central no resgate de sentido. E na construção de um futuro possível.
Haratischwili mistura tons realistas com elementos quase mágicos. O chocolate, as coincidências e os presságios criam atmosfera simbólica. Esses elementos ampliam a dimensão emocional da narrativa. A ficção se torna espaço para compreender o indizível. E para transformar tragédias em arte. A obra conquista pela profundidade e pela intensidade poética.
A autora também explora a relação entre indivíduo e Estado. O totalitarismo soviético deixa marcas profundas nos personagens. Medo, vigilância e censura moldam comportamentos e destinos. Contudo, mesmo diante da opressão, há rebeldia e coragem. O romance revela a luta pela dignidade em meio a regimes autoritários. E mostra como a política invade a vida íntima.
Por fim, A Oitava Vida (para Brilka) é entregue à jovem Brilka como legado. A narradora espera que ela possa romper o ciclo de dor herdado. A história familiar se transforma em convite à libertação. O romance termina como gesto de esperança. Uma tentativa de dar novo sentido à história. E de ressignificar gerações de sofrimento.

