“As Cartas de um Silêncio”, de Teresa Laplace, é uma narrativa delicada e profundamente introspectiva sobre a dor, o luto e a tentativa de reconstrução por meio da escrita. A autora conduz o leitor por um enredo comovente em que o silêncio não representa ausência, mas sim a linguagem mais sincera dos sentimentos que não cabem em palavras faladas.
A protagonista da obra, que permanece sem nome ao longo de toda a narrativa, escolhe escrever cartas para alguém que já não está mais presente. Essas cartas nunca são enviadas — são guardadas em uma caixa que simboliza tanto um túmulo quanto um relicário. A escrita torna-se sua forma de manter viva a memória, de reorganizar o caos interno e de continuar respirando em meio à dor.
A ausência da pessoa amada é o eixo em torno do qual tudo gira. O silêncio, no título, representa esse vazio que grita em cada espaço da casa, em cada gesto cotidiano. No entanto, as cartas surgem como tentativa de dar voz a esse silêncio, como se, ao nomear a dor, fosse possível transformá-la em algo compreensível, ou pelo menos suportável.
O livro é composto por uma sucessão de fragmentos epistolares que mesclam lembranças, reflexões e momentos de desespero contido. A linguagem é poética, com passagens que se assemelham a versos livres, carregadas de metáforas e sensibilidade. Teresa Laplace constrói uma personagem que não busca piedade, mas sim compreensão, ainda que seja por meio do papel.
Com o tempo, o tom das cartas vai mudando. Se no início o desabafo é amargo e marcado pela perda, aos poucos surgem nuances de aceitação, de ternura, e até de reconexão com a própria vida. A escrita começa a refletir não apenas a ausência do outro, mas o redescobrimento de si mesma após a dor. O silêncio se torna menos opressor e mais meditativo.
A memória tem papel central na obra. A protagonista revisita cenas compartilhadas, lugares, gestos, conversas e silêncios compartilhados. Essas lembranças não têm o tom idealizado comum em narrativas sobre perda; pelo contrário, são reais, com seus atritos e suas falhas, e é justamente essa autenticidade que as torna comoventes.
A autora também propõe uma reflexão sobre o valor das cartas em um mundo cada vez mais rápido e digital. O ato de escrever à mão, com tempo e intenção, adquire um significado quase ritualístico. Escrever torna-se um meio de preservar a história pessoal diante da inevitável erosão da memória.
Nos parágrafos finais, há uma transformação simbólica importante: a personagem decide enterrar a caixa de cartas. Esse gesto não representa o esquecimento, mas uma despedida honesta e necessária. Ao colocar as palavras sob a terra, ela afirma que está pronta para continuar vivendo, levando consigo o que é essencial — e deixando ir o que já cumpriu seu papel.
“As Cartas de um Silêncio” é, portanto, um retrato sensível do luto e da esperança. Teresa Laplace escreve com a precisão de quem conhece as palavras que doem e também as que curam. A obra é um convite ao recolhimento e à escuta daquilo que só o silêncio — ou a escrita — pode revelar.