“O Relógio de Areia Azul”, escrito por Marina do Vale, é uma narrativa envolvente que entrelaça fantasia, memória e o mistério do tempo. A autora apresenta uma trama que gira em torno de um objeto enigmático — um relógio de areia cujos grãos têm a cor do céu ao entardecer — e sua influência sobre as vidas de quem o possui.
A história acompanha Clara, uma jovem introspectiva que encontra o relógio em uma antiga livraria escondida no centro histórico de sua cidade. Desde o primeiro toque, ela sente que aquele objeto carrega algo mais do que simples areia: ele parece reagir às suas emoções, acelerando ou desacelerando o tempo conforme seu estado de espírito.
Marina do Vale constrói um universo onde o tempo não é uma linha reta, mas uma teia viva, sensível e moldável. Clara passa a viver experiências que desafiam a lógica — memórias do futuro, ecos de decisões ainda não tomadas, encontros com versões alternativas de si mesma. O relógio torna-se uma metáfora do controle (ou da ilusão de controle) sobre o destino.
Com uma escrita sensível e poética, a autora conduz o leitor por uma jornada introspectiva. Clara é confrontada por dilemas sobre escolhas, arrependimentos e o desejo de reescrever o passado. Cada virada do relógio azul representa uma chance, mas também um risco: quanto mais se tenta manipular o tempo, mais ele escapa entre os dedos.
Ao longo da narrativa, personagens secundários ganham profundidade — como Elias, um relojoeiro cego que parece saber mais do que revela, e Sofia, uma mulher idosa que um dia também foi dona do mesmo artefato. Suas histórias se cruzam de maneira sutil, formando um mosaico de experiências marcadas pela passagem (e pelo uso) do tempo.
Um dos pontos altos do romance é a relação entre tempo e afeto. Clara descobre que os momentos mais preciosos não podem ser prolongados artificialmente. A tentativa de congelar a felicidade ou apagar a dor apenas distorce a realidade. O relógio, antes símbolo de poder, se revela um espelho de suas inquietações mais profundas.
À medida que a trama avança, Clara precisa tomar uma decisão difícil: manter o relógio e continuar controlando sua linha do tempo, ou devolvê-lo e aceitar o fluxo natural da vida. A escolha final é feita de forma simbólica, num ato silencioso de maturidade e renúncia — uma cena que encerra o livro com delicadeza e força emocional.
“O Relógio de Areia Azul” não é apenas um romance sobre viagens temporais; é uma reflexão sobre a transitoriedade da existência, o valor do presente e o peso das nossas decisões. Marina do Vale oferece uma narrativa que convida à contemplação e ao silêncio — como o som dos grãos de areia caindo, um a um.
Com lirismo e originalidade, Marina do Vale entrega uma obra marcante, que permanece na memória como um sonho vívido. “O Relógio de Areia Azul” é, acima de tudo, um lembrete de que o tempo não é inimigo — é parte de quem somos.