“Sombras na Janela”, de Eduardo Ribeiro, é um suspense psicológico que mistura drama familiar, segredos antigos e a sensação constante de que algo espreita além da visão direta. Com uma ambientação intimista e perturbadora, a obra prende o leitor do início ao fim ao explorar a fragilidade da sanidade e os limites entre realidade e alucinação.
A trama acompanha Júlia, uma professora aposentada que decide voltar para a casa onde cresceu, após a morte do irmão mais velho. A mansão, abandonada há anos, guarda lembranças nebulosas da infância — especialmente a figura da mãe, uma mulher reclusa e atormentada, e a janela do sótão, de onde Júlia dizia ver “sombras que dançavam à noite”.
À medida que Júlia se instala, acontecimentos estranhos começam a ocorrer. Objetos mudam de lugar, vozes sussurram em cômodos vazios, e as sombras na janela voltam a aparecer, como se o tempo não tivesse passado. Eduardo Ribeiro conduz esses momentos com sutileza, criando uma tensão crescente que nunca se resolve completamente, mantendo o mistério no ar.
O romance também mergulha nas cicatrizes emocionais deixadas por uma família marcada por silêncios. Júlia encontra cartas escondidas, diários incompletos e fotografias queimadas que revelam um passado de abusos, traições e pactos secretos. O leitor é levado a questionar: seriam as sombras manifestações sobrenaturais ou fruto de uma mente ferida?
Com uma linguagem precisa e melancólica, Eduardo Ribeiro estrutura o livro em capítulos curtos, alternando o presente com flashbacks da infância de Júlia. Essa alternância não só amplia a densidade da narrativa, mas também embaralha a percepção de tempo, confundindo o que é lembrança, sonho ou delírio.
A figura do “homem da janela”, uma presença constante nas visões da protagonista, se torna um símbolo recorrente ao longo da narrativa. Sua identidade e propósito são lentamente revelados, conduzindo a um clímax angustiante, em que Júlia confronta não só os fantasmas da casa, mas também os de sua própria memória.
Um dos temas centrais da obra é a culpa. Júlia, ao tentar decifrar o passado, descobre que não é apenas vítima, mas também responsável por silêncios que permitiram tragédias. Essa percepção transforma a protagonista de observadora em agente, culminando em uma decisão extrema nos capítulos finais.
“Sombras na Janela” não entrega respostas fáceis. Eduardo Ribeiro prefere deixar espaço para interpretações, fazendo da leitura uma experiência subjetiva e inquietante. O final, ambíguo e perturbador, ecoa na mente do leitor muito depois da última página.
Ao unir tensão psicológica, lirismo e um cenário claustrofóbico, Eduardo Ribeiro constrói um livro impactante e atmosférico. “Sombras na Janela” é um mergulho nos limites da memória, no terror do não-dito — e no que se esconde quando todas as luzes se apagam.