O romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto, narra a trajetória de Isaías Caminha, um jovem negro, filho de uma ex-escrava, que busca ascender socialmente através da educação e do mérito. A obra denuncia o racismo estrutural, os preconceitos e as hipocrisias da sociedade carioca no início do século XX.
Isaías Caminha, inteligente e esforçado, é incentivado por sua mãe e pelo padre da cidade onde nasceu a investir nos estudos, sonhando com um futuro digno. Ao concluir seus estudos, decide partir para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades e reconhecimento.
Chegando à capital, Isaías logo se depara com as barreiras impostas pelo preconceito racial. Apesar de sua formação, enfrenta inúmeras portas fechadas, desdém e olhares de superioridade vindos de uma sociedade elitista, branca e excludente.
Diante das dificuldades, Isaías tenta emprego em diversos lugares até ser admitido como auxiliar em um grande jornal. Nesse ambiente, ele presencia os bastidores do jornalismo, repletos de vaidades, corrupção, manipulações e jogos de interesse.
O protagonista observa como os jornalistas moldam as notícias de acordo com os interesses políticos, econômicos e pessoais. A ética profissional, muitas vezes, é deixada de lado em prol de vantagens financeiras ou favorecimentos pessoais.
Isaías Caminha, apesar do desconforto com aquele meio, procura se adaptar e crescer profissionalmente. No entanto, percebe que sua cor e origem são barreiras quase intransponíveis, limitando seu avanço, independentemente de sua competência ou dedicação.
Ao longo da narrativa, o personagem enfrenta humilhações veladas e explícitas. Seu talento intelectual não é suficiente para ser aceito como igual, e ele começa a entender que, na sociedade em que vive, o racismo é um obstáculo que a meritocracia não consegue superar.
Cansado das decepções e desilusões, Isaías decide abandonar o jornalismo e aceita um cargo de escrivão público, posição que, embora modesta, lhe oferece estabilidade e a possibilidade de se afastar daquele meio corrupto e hostil.
“Recordações do Escrivão Isaías Caminha” é uma obra que, além de autobiográfica, faz uma crítica social contundente. Lima Barreto expõe o racismo, a hipocrisia das elites e a falsa meritocracia, trazendo à tona reflexões que, infelizmente, continuam extremamente atuais.