Em “Cinzas do Norte”, Milton Hatoum tece uma narrativa complexa e envolvente que se desenrola na cidade de Manaus, um cenário marcado pela exuberância da Amazônia. A trama se inicia com o retorno de Radek, um fotógrafo, à sua cidade natal após uma longa ausência. Ao regressar, ele se vê imerso em um intricado enredo que mistura segredos familiares, relações passionais e o impacto da história regional na vida dos personagens.
A história se desenrola em duas épocas distintas: o final do século XIX e a década de 1960. Essa escolha temporal permite a Hatoum explorar a transformação social, política e econômica da região amazônica, oferecendo uma visão rica e multifacetada do contexto histórico. A narrativa abrange eventos como a Belle Époque, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução de 1930, contextualizando as vidas dos personagens no fluxo da história.
Radek, ao retornar, descobre segredos há muito enterrados em sua família. Enquanto ele reacende antigas paixões, o autor revela a complexidade das relações amorosas e familiares, muitas vezes moldadas por escolhas difíceis e circunstâncias incontroláveis. Hatoum habilmente explora os temas da identidade, pertencimento e a influência do passado na formação dos destinos individuais.
O título “Cinzas do Norte” sugere uma metáfora para as lembranças que persistem, mesmo quando o tempo parece ter consumido parte da vivência. A obra não apenas é uma reflexão sobre o passado, mas também uma análise das mudanças sociais e culturais que transformam a região amazônica ao longo do tempo.
A escrita envolvente de Hatoum cativa o leitor, enquanto ele desvela os intricados fios que conectam os personagens. A trama é enriquecida pela descrição minuciosa da paisagem amazônica, tornando-se quase um personagem por si só. “Cinzas do Norte” recebeu aclamação pela sua profundidade, abordagem sensível dos personagens e pela capacidade do autor em entrelaçar o pessoal e o histórico de maneira magistral.