“As Cores do Silêncio Esquecido”, de Marta Eliane Rocha, é uma obra intensa e poética que mergulha nos labirintos da memória, da dor e da superação. A autora constrói uma narrativa sensível e multifacetada, em que o silêncio ocupa um lugar central — não como ausência, mas como uma presença densa, carregada de significados. Cada cor, cada gesto contido, cada espaço em branco fala mais alto do que as palavras.
A protagonista da história, marcada por traumas e perdas profundas, é uma mulher que decide revisitar seu passado em busca de fragmentos de si mesma. A narrativa acompanha esse retorno íntimo, em que lembranças antes abafadas pelo silêncio vão sendo despertadas por pequenas imagens, sons e cores. Marta Eliane Rocha trata o tempo com delicadeza, mesclando passado e presente em cenas que se entrelaçam de forma quase lírica.
A linguagem da autora é ao mesmo tempo sutil e carregada de emoção. As descrições são sensoriais, com forte apelo visual e simbólico. As cores desempenham um papel essencial — simbolizam sentimentos e fases da vida da personagem, como o azul da ausência, o vermelho da dor, o cinza da dúvida e o branco do recomeço. É por meio dessas cores que o silêncio vai ganhando voz, se tornando elo de reconexão com a própria identidade.
O silêncio, longe de ser passividade, é retratado como resistência, introspecção e escudo. Ele protege a protagonista, mas também a isola do mundo. O processo de romper com esse silêncio é doloroso, mas necessário. À medida que a personagem avança em sua jornada interior, o silêncio vai sendo pintado com novas cores — o silêncio do luto cede lugar ao da contemplação, depois ao do perdão e, por fim, ao da paz.
A estrutura narrativa é fragmentada e não linear, reforçando a ideia de uma memória que se reconstrói aos poucos. Marta Eliane Rocha opta por capítulos curtos, quase como reflexões ou fotografias da alma da personagem. Essa escolha estilística dá à obra um tom confessional e íntimo, convidando o leitor a participar desse processo de escavação interior.
Além da dimensão pessoal da protagonista, o livro também traz uma crítica sutil à forma como a sociedade lida com o sofrimento feminino, a opressão silenciosa e a invisibilização de certos traumas. A autora consegue, sem recorrer a discursos diretos, abordar temas como abuso, abandono e reconstrução da subjetividade com profundidade e sensibilidade.
O desfecho da obra é aberto, mas carrega uma sensação de libertação. A protagonista não encontra todas as respostas, mas finalmente se permite habitar o presente, com todas as suas cores e incertezas. O silêncio continua a existir, mas agora transformado: já não é o peso do que foi calado, e sim o espaço onde novas palavras e sentidos poderão nascer.
“As Cores do Silêncio Esquecido” é, portanto, uma obra sobre escuta — escutar o que foi silenciado dentro de si, escutar a linguagem das cores, escutar o tempo que passa e transforma. Marta Eliane Rocha oferece um romance delicado e potente, que toca fundo e convida à reflexão sobre o que deixamos de dizer, sobre o que esquecemos por defesa, e sobre a beleza que pode nascer do reencontro com nós mesmos.
A leitura dessa obra é uma experiência emocional e estética. Cada página carrega uma emoção contida, uma imagem marcante, um gesto suspenso. Marta Eliane Rocha escreve com a precisão de quem entende que há momentos em que o silêncio é a única linguagem possível — e que mesmo esse silêncio tem cor, peso e história.