Publicado em 1967, O Homem que Dorme, de Georges Perec, é um romance introspectivo e experimental que narra a alienação e o isolamento de um jovem estudante parisiense que, um dia, simplesmente decide abandonar sua rotina e se desconectar do mundo.
A história acompanha esse protagonista anônimo, que, ao invés de comparecer a um exame universitário, escolhe ficar em seu pequeno quarto de pensão, deixando de lado todas as suas obrigações. A partir desse momento, ele entra em um estado de apatia profunda, recusando qualquer envolvimento com a sociedade, vagando pelas ruas de Paris sem rumo e sem propósito.
O romance é escrito em segunda pessoa, como se o narrador estivesse descrevendo os pensamentos e ações do protagonista diretamente ao leitor. Esse estilo narrativo cria um efeito hipnótico, reforçando a sensação de distanciamento e alienação que domina a vida do personagem.
Aos poucos, ele adota uma rotina mecânica e indiferente, reduzindo sua existência ao mínimo necessário. Ele observa o mundo ao seu redor sem se envolver, vê a cidade se mover sem que sua presença tenha qualquer impacto. Sua recusa em participar da sociedade se transforma em um experimento existencial, uma tentativa de anular-se completamente.
No entanto, essa busca por indiferença absoluta não o livra da consciência da passagem do tempo. Ele percebe que, mesmo que tente se apagar, o mundo continua girando, e a solidão absoluta acaba por se tornar insustentável. Aos poucos, seu estado de dormência existencial começa a dar lugar a uma nova percepção da realidade, levando-o a uma reflexão sobre o significado da sua própria existência.
A obra é profundamente influenciada pelo existencialismo e pelo pensamento da escola Oulipo, grupo literário do qual Perec fazia parte, que explorava novas formas narrativas e jogos linguísticos. O estilo fragmentado e repetitivo do texto reforça a sensação de monotonia e imersão na mente do protagonista.
Mais do que um simples relato de tédio ou depressão, O Homem que Dorme é uma poderosa meditação sobre a alienação, o vazio e a busca pelo sentido da vida. Com um estilo único e profundamente filosófico, Perec constrói uma narrativa que desafia o leitor a refletir sobre sua própria relação com o mundo e o tempo.