“A Boa-fé no Direito Privado” , de Judith Martins-Costa, é uma obra de referência no campo do Direito Civil brasileiro, abordando com profundidade o princípio da boa-fé, essencial nas relações jurídicas. Publicado inicialmente em 1999, o livro explora como esse conceito, originado do direito romano e evoluído ao longo do tempo, desempenha um papel central no direito contratual, obrigacional e nas relações patrimoniais.
Judith Martins-Costa inicia sua análise situando a boa-fé como um princípio geral que norteia o comportamento das partes envolvidas em contratos e outras relações jurídicas privadas. Esse princípio estabelece que os contratantes ajam com lealdade, honestidade e respeito mútuo, tanto na formação quanto na execução dos contratos. A autora distingue entre a boa-fé objetiva e a boa-fé subjetiva, sendo a primeira ligada à conduta exigível das partes (um padrão ético de comportamento) e a segunda relacionada à crença íntima do indivíduo de estar envolvido corretamente.
A autora discute detalhadamente como a boa fé objetiva ganhou espaço no ordenamento jurídico brasileiro, sendo aplicada como um parâmetro de comportamento em diversas situações contratuais, protegendo os direitos e expectativas das partes. Um dos destaques da obra é a análise da função integrativa da boa-fé objetiva, que supre lacunas contratuais e permite a interpretação dos contratos de maneira justa e equilibrada. Martins-Costa argumenta que esse princípio funciona como um “dever jurídico de proteção”, impondo obrigações de cooperação e informação entre as partes.
Além disso, o livro explora a boa-fé como direcionado para a limitação de direitos, impedindo o exercício abusivo ou contraditório de posições jurídicas. A autora apresenta o conceito de “venire contra factum proprium”, que impede uma parte de agir de maneira contraditória com uma expectativa que ela mesma criou para a outra parte. Essa análise revela o papel da boa-fé na promoção de justiça e equilíbrio nas relações jurídicas, garantindo que nenhum contratante desfrute de situações desfavoráveis ou ambíguas.
Martins-Costa também dedica parte de sua obra a um debatedor sobre como a boa-fé é aplicada em diferentes contextos do Direito Privado, como o Direito do Consumidor, o Direito das Obrigações e o Direito de Família. A autora enfatiza a importância da boa-fé em garantir a equidade nas relações jurídicas, especialmente em situações onde há desequilíbrio de poder ou informação entre as partes. No Direito do Consumidor, por exemplo, a boa-fé serve como proteção contra práticas abusivas e cláusulas contratuais específicas ao consumidor.
Com uma abordagem teórica sólida e fundamentada em ampla pesquisa histórica e comparativa, Judith Martins-Costa faz uso de fontes jurídicas nacionais e estrangeiras para contextualizar a evolução e aplicação do princípio da boa-fé. O livro se destaca pela profundidade com que explora o tema, tornando-se uma obra essencial para advogados, juízes, acadêmicos e estudantes de Direito específicos em entender o papel desse princípio nas relações jurídicas.