Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro de Jorge Tavares é uma obra que oferece uma análise abrangente dos fundamentos, princípios e aplicações da responsabilidade civil no ordenamento jurídico brasileiro, com foco no Código Civil de 2002. O livro se propõe a explorar a evolução histórica do instituto, desde suas origens no Código Civil de 1916 até as inovações trazidas pela legislação atual, destacando a importância da responsabilidade civil como mecanismo de substituição de danos e promoção da justiça social. O autor apresenta a responsabilidade civil como um dever jurídico que surge da violação de direitos, seja por ação ou omissão, enfatizando sua relevância em um contexto de crescente complexidade nas relações sociais.
O primeiro capítulo do livro contextualiza a responsabilidade civil, definindo-a como as obrigações de reparar danos causados a outrem, conforme previsto no artigo 186 do Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, cometa ato ilícito.” Tavares explora os elementos essenciais da responsabilidade civil – conduta, dano e nexo causal – e discute a distinção entre responsabilidade subjetiva, que exige a comprovação de culpa, e objetiva, baseada na teoria do risco, aplicável em casos específicos previstos na lei ou em atividades de risco específicas.
A obra dedica atenção à responsabilidade subjetiva, que permanece como regra geral no ordenamento brasileiro. Tavares analisa como a culpa, em suas formas de dolo ou negligência, é o fundamento para a responsabilização na maioria dos casos de danos patrimoniais ou morais. Ele ilustra com exemplos práticos, como acidentes de trânsito causados por imprudência, destacando a necessidade de comprovar a conduta culposa do agente. O autor também discute a evolução jurisprudencial que amplia a interpretação da culpa, incorporando conceitos como a culpa presumida em algumas situações.
Um ponto central do livro é a análise da responsabilidade objetiva, introduzida de forma mais ampla pelo artigo 927, parágrafo único, do Código Civil, que estabelece a reposição de danos independentemente de culpa em casos de atividades de risco. Tavares explora a teoria do risco criado, explicando como ela se aplica a setores como indústrias perigosas, transporte público e serviços médicos. Ele cita exemplos de reclamações brasileiras, como casos de acidentes de obras ou danos causados por concessionárias de serviços públicos, para ilustrar a aplicação prática dessa modalidade.
O autor também aborda os danos indenizáveis, dividindo-os em materiais, morais e estéticos. Tavares enfatiza que o dano é um pressuposto essencial para as peças, sendo necessário demonstrar a lesão a um interesse jurídico, seja patrimonial (como perdas financeiras) ou extrapatrimonial (como ofensas à honra). Ele discute a teoria da perda de uma chance, reconhecida pela indenização brasileira, que permite indenizar a vítima por oportunidades perdidas devido à conduta ilícita de terceiros, como em erros médicos que comprometem tratamentos.
Outro tema explorado é a responsabilidade civil nas relações de família, um campo que ganhou destaque com o Código Civil de 2002. Tavares examina a possibilidade de reposição por danos morais decorrentes de manifestação de deveres conjugais ou parentais, como o abandono afetivo. Ele destaca que, embora o ordenamento brasileiro reconheça esses danos, a exigência de prova de violação a direitos de personalidade, e não apenas a ausência de afeto, para evitar a banalização do conceito de dano moral.
A obra também trata da responsabilidade civil do Estado, fundamentada no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, que adota a teoria do risco administrativo. Tavares analisa como o Estado responde objetivamente por danos causados por seus agentes, com direito de regresso contra o responsável em casos de dolo ou culpa. Ele discute casos práticos, como erros judiciais e falhas em serviços públicos, e destaca os desafios de uniformizar decisões judiciais em um tema tão complexo.
No campo da responsabilidade contratual e extracontratual, Tavares diferencia-se das obrigações que surgem de descumprimento de contratos (como inadimplemento de cláusulas) das que decorrem de atos ilícitos sem relação contratual prévia (como acidentes causados por terceiros). Ele explora como o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor se complementam, especialmente em casos de responsabilidade de fornecedores por defeitos em produtos ou serviços, onde a responsabilidade objetiva é frequentemente aplicada.
Por fim, a Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro de Jorge Tavares reforça a importância do instituto como pilar da convivência social, garantindo que as vítimas de danos sejam reparadas e que os responsáveis sejam incentivados a agir com diligência. A obra é uma ferramenta útil para estudantes, advogados e juízes, combinando análise teórica com exemplos práticos e jurisprudenciais. Tavares conclui que a responsabilidade civil, ao equilibrar justiça e segurança sociedade jurídica, reflete a evolução do Direito em resposta às demandas de uma dinâmica.