“O Galo que Não Cantava ao Amanhecer”, de Roberto Linhares Mendes, é uma fábula contemporânea que mistura simplicidade e profundidade. A obra apresenta um conto aparentemente infantil, mas carregado de simbolismos sobre identidade, medo, pertencimento e o poder da voz — literal e metaforicamente.
O protagonista é um galo diferente dos demais: ele simplesmente não canta ao amanhecer. Em um vilarejo onde todos os galos seguem o mesmo ritual, sua ausência de canto torna-se motivo de estranhamento, fofoca e até exclusão. A vila o observa com curiosidade e desconfiança, como se ele estivesse quebrando uma regra sagrada.
Roberto Linhares Mendes usa esse cenário para discutir a pressão social pelo conformismo. O galo silencioso é a figura do indivíduo que não se encaixa nas expectativas alheias. A metáfora é poderosa: quantos de nós já sentimos que falhamos por não “cantar” como os outros esperam? O autor instiga o leitor a refletir sobre autenticidade e coragem.
Com uma narrativa delicada e lírica, a história percorre a trajetória do galo em busca de compreensão sobre sua própria natureza. Ele tenta cantar, imita outros galos, força sua voz. Mas tudo soa artificial, desconectado. Só no silêncio ele se sente verdadeiro. Essa escolha o isola, mas também o leva a uma descoberta transformadora.
Ao longo da narrativa, o galo conhece outros animais marginalizados — como uma coruja que só enxerga à noite e um cordeiro que se recusa a seguir o rebanho. Cada um oferece um fragmento de sabedoria sobre aceitação, tempo próprio e liberdade de ser. Esses encontros funcionam como fábulas dentro da fábula, enriquecendo o enredo com camadas filosóficas.
O ponto de virada acontece quando uma tempestade atinge o vilarejo e desorienta todos os animais. Nesse momento de caos, o galo, mesmo sem cantar, age com firmeza e lucidez. Ele guia os outros com sua presença calma e observadora. A vila, então, percebe que sua força nunca esteve no canto, mas na escuta, na atenção e no cuidado.
A mensagem do livro é clara: não é preciso se encaixar em um padrão para ter valor. O verdadeiro amanhecer de cada um pode soar diferente — ou vir em silêncio. Roberto Linhares Mendes convida o leitor a escutar sua própria manhã interior, aquela que não precisa de barulho para ser verdadeira.
A linguagem do autor é acessível, mas refinada, permitindo que o livro agrade tanto crianças quanto adultos. Há humor sutil, emoção contida e uma cadência poética que transforma a leitura em uma experiência sensível. É uma história breve, mas que ecoa por muito tempo após a última página.
“O Galo que Não Cantava ao Amanhecer” é uma metáfora sobre autenticidade em tempos de ruído. Roberto Linhares Mendes entrega um conto inesquecível, que lembra que às vezes, o maior ato de coragem é permanecer em silêncio — fiel a quem se é.