O Tronco, de Bernardo Élis, é um dos grandes romances da literatura regionalista brasileira, publicado em 1956. A obra transporta o leitor para o interior de Goiás, revelando um Brasil profundo, marcado por tradições, violências, injustiças sociais e um ambiente de luta constante pela sobrevivência. Com uma narrativa vigorosa e crítica, o autor denuncia as relações de poder e as estruturas de dominação presentes na vida rural goiana.
A história é ambientada em um período de transição, quando o sertão começava a sentir os efeitos da modernização, mas ainda era dominado por coronéis e figuras autoritárias. O tronco, símbolo central do livro, representa o instrumento de castigo e repressão, usado para torturar e punir aqueles que ousavam desobedecer às ordens dos poderosos locais. Esse objeto adquire um valor metafórico, condensando a violência sistemática que sustentava a ordem social.
Bernardo Élis constrói personagens fortes e complexos, que vivem entre a submissão e a resistência. De um lado, estão os coronéis e chefes políticos, donos da terra e da força, que impõem sua autoridade pela violência. De outro, aparecem camponeses, trabalhadores e sertanejos que, embora oprimidos, encontram formas de sobreviver e, em alguns casos, resistir.
A narrativa é marcada pelo realismo brutal, com descrições de torturas, perseguições, traições e abusos de poder. Não há espaço para idealizações românticas do sertão: o que predomina é a denúncia das injustiças e da arbitrariedade. Nesse sentido, O Tronco aproxima-se da literatura engajada, comprometida em expor a dura realidade vivida pelos mais pobres e marginalizados.
Outro aspecto relevante é a linguagem adotada por Bernardo Élis. Rica em expressões populares e regionais, ela confere autenticidade à narrativa, permitindo ao leitor mergulhar no universo goiano. Ao mesmo tempo, a prosa tem ritmo intenso e envolvente, o que reforça a dramaticidade das situações apresentadas.
O livro também se destaca pela crítica à estrutura política da época, marcada pelo mandonismo, pela ausência de justiça e pelo uso da violência como instrumento de poder. Ao expor essas práticas, o autor aponta para a necessidade de transformação social e para a urgência de um sistema mais justo e humano.
Ao longo da obra, o tronco não é apenas um objeto de castigo físico, mas uma metáfora da condição humana diante da opressão. Ele representa o peso das estruturas sociais que esmagam o indivíduo, mas também sugere a resistência silenciosa daqueles que, mesmo subjugados, mantêm a esperança de liberdade.
Por isso, O Tronco transcende o regionalismo, tornando-se um retrato universal da luta contra a tirania e a injustiça. Sua força está em mostrar como a violência se institucionaliza e se perpetua, mas também como os indivíduos, em sua humanidade, não deixam de sonhar com dignidade e mudança.
Assim, Bernardo Élis cria uma obra fundamental da literatura brasileira, que dialoga tanto com o passado do sertão goiano quanto com questões sociais ainda presentes na atualidade. O Tronco é, portanto, mais do que uma narrativa regional: é um testemunho poderoso das contradições humanas diante da opressão.