Guida, a protagonista do romance A Mão e a Luva, é uma jovem ambiciosa que deseja ascender socialmente por meio de um bom casamento. Ela é criada por sua tia, D. Dorotéia, e desde cedo demonstra inteligência e frieza emocional. Seus pretendentes representam diferentes perfis da sociedade carioca do século XIX. A jovem manipula esses homens com habilidade para alcançar seus objetivos. A história se desenvolve em torno das escolhas dela e das consequências que essas decisões geram.
Jorge, um dos principais pretendentes de Guida, é um jovem rico, porém imaturo, apaixonado e vaidoso. Ele vê Guida como um ideal romântico, mas não consegue compreendê-la em profundidade. É um personagem que representa o amor superficial e a frivolidade da alta sociedade. Sua ingenuidade é explorada por Guida, que o considera manipulável. Isso expõe o jogo de aparências que domina as relações amorosas da elite.
Estêvão, outro pretendente, é o oposto de Jorge: sensível, romântico e dedicado. Representa o amor sincero e idealista, mas é desprezado por Guida por sua falta de ambição social. Embora a ame verdadeiramente, não corresponde às expectativas da protagonista em relação à ascensão social. Sua figura serve como contraponto moral no romance. É o símbolo do sentimento puro que não encontra espaço na lógica fria de Guida.
Luís Alves, o terceiro pretendente, é calculista e ambicioso, muito mais próximo do perfil que Guida busca. Ele é perspicaz e consegue, com o tempo, conquistar a confiança e o afeto da jovem. Ambos são parecidos em suas estratégias e interesses sociais. O título do livro se justifica nessa relação: ele é a “mão” que se encaixa perfeitamente na “luva” que é Guida. A união deles é o desfecho do jogo social que guia a trama.
Machado de Assis constrói um retrato irônico e crítico da sociedade brasileira do século XIX, sobretudo no que diz respeito ao papel da mulher e ao casamento como ascensão. Guida não é uma heroína romântica tradicional, mas uma figura racional e estratégica. Sua frieza é interpretada como inteligência social em um mundo que não oferece muitas opções às mulheres. O romance reflete sobre o poder, o desejo e a aparência. O título metafórico revela as relações como encaixes convenientes.
O estilo de Machado é marcado por sutilezas psicológicas e ironia fina. O autor não condena diretamente suas personagens, mas convida o leitor a refletir sobre seus valores e motivações. A narrativa em terceira pessoa é objetiva e analítica, sem sentimentalismos. Isso fortalece a crítica social presente no livro. A profundidade dos personagens reflete a complexidade das escolhas humanas.
O romance também aborda a influência do dinheiro, da posição social e das convenções na vida amorosa. O casamento não aparece como um ato de amor, mas como um contrato de interesses. Guida compreende isso desde o início e usa esse entendimento como vantagem. O amor verdadeiro é descartado em nome da sobrevivência e do status. Machado mostra o quanto as emoções são moldadas por fatores externos.
Em A Mão e a Luva, Machado antecipa temas que aprofundará em obras posteriores, como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. A crítica à hipocrisia social, a análise psicológica dos personagens e o uso da ironia consolidam o estilo machadiano. O romance é uma chave para entender os primeiros passos do autor no realismo brasileiro. Sua atualidade permanece na forma como retrata as relações humanas.