O livro A Ditadura Escancarada de Elio Gaspari aborda o período mais duro da ditadura militar brasileira, a partir de 1969. O autor mostra como as liberdades políticas foram suspensas e a repressão tornou-se sistemática. A censura e a violência contra opositores se tornaram instrumentos centrais do regime. Gaspari detalha a escalada do controle militar sobre a sociedade. A obra descreve o período conhecido como “anos de chumbo” de forma contundente e analítica.
Ao mesmo tempo, o livro mostra o chamado “milagre econômico”, em que o país experimentou crescimento e pleno emprego aparente. Gaspari aponta a contradição entre prosperidade econômica e repressão brutal. O autor demonstra que o regime buscava estabilidade e legitimidade interna e externa. Esse contraste evidencia que o controle político e o desenvolvimento econômico coexistiam de maneira complexa. A obra ajuda a compreender as bases do poder militar naquele momento histórico.
O episódio da Guerrilha do Araguaia recebe atenção especial, sendo retratado como a principal resistência armada ao regime. Gaspari narra a forma violenta como o Estado reagiu, incluindo prisões, torturas e desaparecimentos. Ele mostra como a política de segurança nacional justificava ações extremas. O livro evidencia a frieza do planejamento militar contra insurgentes. Esses eventos refletem a determinação do regime em eliminar qualquer oposição armada.
Gaspari também discute a “anarquia militar” interna, com conflitos entre diferentes setores do poder. Havia divergências entre quartéis e órgãos de repressão, gerando arbitrariedades. O autor mostra que o regime não era monolítico, mas fragmentado e muitas vezes desorganizado. Essa análise revela que a repressão era estratégica e ao mesmo tempo imprevisível. O livro apresenta um retrato detalhado das disputas internas do governo militar.
No campo social e cultural, a censura atingiu artistas, intelectuais, estudantes e sindicatos. Gaspari destaca que o regime controlava a sociedade de diversas formas, além da violência direta. O controle incluía vigilância e silenciamento de vozes críticas. Mesmo com o crescimento econômico, o Estado restringia direitos civis fundamentais. Esse enfoque mostra a interligação entre repressão e política de desenvolvimento.
O autor também observa a dimensão internacional da ditadura, mostrando como buscava legitimação política externa. A diplomacia do regime era cuidadosamente articulada com sua repressão interna. Gaspari enfatiza que a ditadura buscava imagem de estabilidade fora do país. Ao mesmo tempo, mantinha controle absoluto sobre cidadãos e opositores. Essa relação entre política interna e externa evidencia a complexidade do regime militar.
Além de relatar fatos históricos, Gaspari reflete sobre o legado da ditadura para a democracia brasileira. Ele mostra como práticas de exceção e repressão ainda influenciam instituições e cultura política. O autor propõe reflexão sobre os efeitos de longo prazo da violência institucionalizada. A obra demonstra que compreender o passado é essencial para entender desafios atuais. Essa dimensão analítica transforma o livro em leitura crítica e necessária.
Em resumo, A Ditadura Escancarada é um estudo profundo e detalhado da ditadura militar brasileira. Gaspari combina jornalismo investigativo, análise histórica e narrativa política. O livro revela os mecanismos de poder, repressão e contradição do regime. Documentos, memórias e relatos dão suporte à narrativa. A obra permanece fundamental para entender a história recente do Brasil e os impactos da ditadura na sociedade.

