“O Coronel e o Lobisomem” de José Cândido de Carvalho é um clássico da literatura brasileira que combina humor, folclore e uma linguagem rica para contar a história pitoresca de Ponciano de Azeredo Furtado, um coronel do interior do Brasil. O romance, publicado em 1964, é uma sátira da vida rural brasileira, onde realidade e fantasia se entrelaçam de forma engenhosa.
Ponciano, o protagonista, é um personagem larger-than-life, com uma personalidade exuberante e uma tendência a exagerar suas façanhas. Ele se vê como um herói destemido, sempre pronto para enfrentar qualquer perigo, seja ele real ou imaginário. Um dos maiores desafios em sua vida é a disputa com um suposto lobisomem que ameaça sua fazenda e seus domínios. Essa batalha contra o lobisomem é emblemática de sua luta contra as forças que ele acredita estarem tentando derrubá-lo, seja a modernidade, seja a mudança social, ou até mesmo seus próprios medos internos.
A narrativa é construída a partir das memórias do coronel, que ele conta de forma grandiloquente e colorida, misturando fatos e ficção, o que cria uma atmosfera onde o realismo mágico permeia a vida cotidiana. Ponciano enfrenta inimigos imaginários com a mesma seriedade que lida com questões práticas, como administrar suas terras ou lidar com a família.
Além de sua luta com o lobisomem, a história aborda sua paixão por Esmeraldina, uma mulher de espírito livre que não corresponde aos padrões tradicionais da sociedade patriarcal na qual Ponciano está inserido. Sua relação com Esmeraldina é marcada por altos e baixos, e a forma como ele lida com ela revela muito sobre seu caráter e as contradições de sua personalidade.
O livro também é uma crônica das mudanças sociais e econômicas do Brasil rural, e como essas mudanças afetam figuras como Ponciano, que estão presos entre a tradição e a modernidade. A figura do coronel, que representa a velha ordem, luta para manter sua relevância em um mundo que está rapidamente mudando ao seu redor.
“O Coronel e o Lobisomem” é, em essência, uma comédia de costumes que revela, através do humor e do exagero, as tensões entre o arcaico e o novo, entre o real e o imaginário, entre o poder e a impotência. A obra é notável não apenas por sua trama envolvente, mas também pela riqueza de sua linguagem, que captura a oralidade e o espírito do interior brasileiro. Através de Ponciano, José Cândido de Carvalho nos oferece uma reflexão profunda e divertida sobre o poder, o medo e a transformação social no Brasil.