“O Filho Eterno” de Cristovão Tezza é um romance profundamente comovente e autobiográfico, publicado em 2007, que aborda a relação entre um pai e seu filho nascido com síndrome de Down. A obra narra, de maneira íntima e honesta, as emoções complexas e contraditórias que o autor, representado pelo protagonista, experimenta ao longo da vida do filho.
A história começa com a notícia do nascimento de Felipe, o filho do protagonista, e o subsequente diagnóstico da síndrome de Down. O impacto dessa revelação é devastador para o pai, que inicialmente reage com negação, raiva e uma sensação esmagadora de perda. Ele tinha expectativas grandiosas para o filho, como qualquer pai, e a constatação de que essas expectativas nunca serão atendidas o deixa completamente desorientado.
Ao longo do romance, o protagonista luta para aceitar a condição de Felipe, enfrentando seus próprios preconceitos e a culpa por sentir vergonha do filho. Ele se vê dividido entre o amor paternal e o sentimento de frustração por ter sido “privado” de um filho “normal”. Essa luta interna é narrada com uma sinceridade brutal, sem tentar suavizar as falhas ou os sentimentos inadequados do pai.
Com o passar dos anos, a relação entre pai e filho vai se transformando. O protagonista, apesar de suas dificuldades emocionais, começa a perceber que Felipe, com todas as suas limitações, tem sua própria forma de ser no mundo, cheia de autenticidade e pureza. Essa constatação leva a uma lenta, mas profunda mudança na atitude do pai, que começa a aceitar e até admirar o filho por quem ele realmente é.
O romance também explora o impacto de Felipe na vida do pai como escritor. O protagonista, que sonhava em ser um grande autor, vê seus planos literários serem frustrados pela responsabilidade inesperada de criar um filho com necessidades especiais. No entanto, paradoxalmente, essa experiência dolorosa acaba sendo a inspiração para sua obra mais significativa, levando-o a compreender que a arte não está separada da vida, mas é um reflexo direto dela.
“O Filho Eterno” é, em última análise, uma jornada de autodescoberta e redenção. Através da convivência com Felipe, o protagonista aprende lições valiosas sobre amor incondicional, aceitação e o verdadeiro significado de ser pai. O romance é escrito com uma prosa clara e direta, mas carregada de emoção, refletindo a complexidade das emoções humanas em face das adversidades.
Cristovão Tezza oferece ao leitor uma visão profunda e corajosa de um tema muitas vezes evitado ou romantizado. “O Filho Eterno” não apenas narra a história de um pai e seu filho, mas também convida à reflexão sobre as expectativas que projetamos nos outros e as formas como lidamos com o que está além do nosso controle. A obra é um testemunho poderoso de como a vida, em toda a sua imperfeição, pode ser uma fonte inesgotável de aprendizado e crescimento pessoal.