“Olhai os Lírios do Campo”, de Erico Verissimo, publicado em 1938, é um dos grandes clássicos da literatura brasileira, marcado por suas reflexões sobre a vida, a morte e as escolhas humanas. O romance conta a história de Eugênio Pontes, um homem de origem humilde que, ao longo de sua trajetória, enfrenta dilemas morais e existenciais, buscando conciliar seus sonhos de ascensão social com os verdadeiros valores da vida.
Eugênio, filho de um alfaiate, cresce ressentido com sua condição financeira e decide estudar medicina, motivado principalmente pelo desejo de obter prestígio e riqueza. Durante sua formação, ele conhece Olívia, uma colega que logo se tornará sua grande amiga e confidente. Olívia é uma jovem sensível e idealista, que leva uma vida simples e acredita no valor da compaixão e da bondade. Enquanto Eugênio se torna cada vez mais consumido pela ambição e pelos valores materialistas, Olívia mantém uma visão mais espiritualizada da vida, tentando guiar Eugênio para caminhos mais nobres.
O ponto central do romance ocorre quando Eugênio, após se formar médico, se casa com Eunice, uma mulher rica e frívola, acreditando que isso o levará à estabilidade financeira e social que sempre desejou. No entanto, a relação é marcada pela superficialidade, e Eugênio começa a sentir um vazio existencial crescente, percebendo que sua busca pelo status não lhe trouxe a felicidade esperada. A insatisfação com sua vida pessoal e profissional faz com que Eugênio entre em uma profunda crise interior.
A verdadeira virada na vida de Eugênio ocorre quando Olívia, que se manteve ao seu lado como amiga durante anos, adoece gravemente. Ao cuidar dela, Eugênio começa a refletir sobre suas escolhas e percebe o quanto havia se afastado de seus princípios mais humanos. A morte de Olívia, que ocorre de forma serena e resignada, confronta Eugênio com a realidade da finitude e da verdadeira importância dos relacionamentos e dos valores morais. É a partir desse momento que Eugênio começa uma jornada de autoconhecimento e redenção.
O título da obra, inspirado em uma passagem bíblica do Sermão da Montanha, simboliza a mensagem central do romance: a necessidade de desprendimento dos bens materiais e a valorização da vida em sua simplicidade e essência. Assim como os lírios do campo, que não precisam se preocupar com o futuro e são cuidados pela natureza, as pessoas devem confiar mais nos processos naturais da vida, desapegando-se das preocupações excessivas com o status e a riqueza.
Ao longo da narrativa, Verissimo constrói uma crítica sutil, mas incisiva, à sociedade capitalista e à busca incessante por sucesso material. O autor explora temas como a alienação, a solidão e a perda de identidade, mostrando como as pressões sociais podem desumanizar os indivíduos. No entanto, “Olhai os Lírios do Campo” também é uma história de esperança, na qual o protagonista tem a chance de se redimir e encontrar um caminho de paz e serenidade ao se reconectar com seus valores mais profundos.
A transformação de Eugênio é o coração da obra, e sua jornada é um convite para o leitor refletir sobre suas próprias escolhas e prioridades. Ao final, o personagem encontra um novo sentido para sua vida, deixando de lado a obsessão pela riqueza e adotando uma postura mais generosa e amorosa em relação ao mundo e às pessoas ao seu redor. Essa busca pela autenticidade e pela reconciliação consigo mesmo e com os outros é o que torna “Olhai os Lírios do Campo” uma obra tão relevante e tocante até os dias de hoje.
Erico Verissimo, com sua escrita fluida e sensível, oferece ao leitor uma narrativa envolvente, repleta de emoções e de lições sobre a condição humana. “Olhai os Lírios do Campo” permanece como um dos grandes romances da literatura brasileira, não apenas pela sua crítica social, mas também pela profundidade de sua mensagem humanista.