No mundo distópico de Legend, os Estados Unidos foram divididos: a República domina o oeste, enquanto as Colônias cobrem o leste. A República mantém ordem através do uso de testes rigorosos (“Trials”) que determinam o futuro de cada criança e o sistema de castas. Junho é uma prodígio da República, filha de elite, bem treinada e leal ao governo. Ela vive com o irmão Metias, que também a protege muito, especialmente após a morte dos pais. Já Day é o criminoso mais procurado, mercê das injustiças cometidas contra ele e sua família.
Day nasceu nos setores pobres da República, nos guetos e com dificuldades extremas. Ele falhou no Trial quando criança, foi enviado a campos de trabalho que se revelam laboratoriais, onde sofreu experimentos. Ele escapa e passa a combater o governo, roubando remédios e ajudando quem sofre. Day cuida de seu irmão Eden, infectado pela Praga, buscando meios de salvá-lo mesmo enfrentando perseguição. Ele se torna uma figura de lenda entre os pobres — herói para uns, inimigo público para o Estado.
June acredita que Day é responsável pela morte de Metias, acusado de assassinato, e sua missão é capturá-lo. Disfarçada nos setores pobres, June acaba ferida e é socorrida por Day e Tess, sua companheira. O encontro entre June e Day muda sua percepção: ela passa a duvidar da narrativa oficial da República. Investigando pistas deixadas por Metias, June descobre segredos do governo, incluindo manipulações, mentiras e uso da Praga como arma política. O amor entre June e Day surge em meio a conflito e traição.
À medida que June absorve as revelações, ela confronta sua lealdade ao governo. Descobre que a República mente sobre quem matou Metias, sobre o tratamento das pessoas definidas como “inúteis” e sobre os ensaios biológicos. June ajuda Day a escapar de sua execução iminente graças ao apoio dos Patriots, grupo de resistência. A traição e o sacrifício têm peso: a mãe de Day é morta, o irmão John sacrifica-se, e muitas perdas pessoais marcam o caminho de ambos. Porém, mesmo tendo fugido, Day e June ficam em perigo: caçados, sem lar seguro, tendo contra si o poder da República.
O apego de Day à responsabilidade de proteger Eden e Tess mostra que ele luta não meramente por vingança, mas por justiça e humanidade. June, por sua vez, aprende que heroísmo pode vir de onde menos se espera, e que acreditar num sistema não é desculpa para aceitar o mal. Ambos crescem, mudam convicções, e se tornam símbolos de esperança para quem sofre sob o regime opressor. A narrativa enfatiza desigualdade social, manipulação política, abuso do poder, e como a verdade pode ser quase apagada quando o Estado quiser.
Os conflitos internos de June destacam dilemas morais: lealdade vs compaixão, dever vs consciência. Ela sofre pressões da República, de seus superiores e de antigos amigos, mas também de seu próprio sentimento de culpa. Do outro lado, Day enfrenta seu destino trágico: sua saúde se deteriora em consequência dos experimentos do governo, e ele precisa lidar com dor física além de emocional. Ambos precisam decidir até que ponto estão dispostos a arriscar tudo — família, vida, reputação — por aquilo em que acreditam.
Amor e sacrifício se entrelaçam: o romance entre June e Day não é idealizado, mas marcado por desconfiança, altos riscos e perdas. Não se trata apenas de estar juntos, mas de lutar juntos. O final da trilogia (Champion) mostra que, mesmo quando parece haver vitória, ela vem com custo alto. A reconstrução de justiça exige mudanças institucionais, remissão de traumas pessoais, responsabilização de líderes corruptos. Legend enfatiza que revolução verdadeira não é apenas derrubar poderosos, mas reconstruir valor humano.
A mensagem central da série gira em torno da esperança persistente em meio à opressão, da importância de fazer escolhas éticas mesmo quando todos esperam conformismo, e de reconhecer a dignidade de cada pessoa, não importa sua origem social. Marie Lu usa sua distopia não só para entreter, mas para criticar desigualdades reais, políticas autoritárias e os perigos de ignorar os menos favorecidos. Legend provoca reflexão sobre o valor da verdade, da solidariedade, e de que, quando o poder se torna opressão, o indivíduo tem dever de resistir.