“Sansão e Dalila”, escrito por Vladimir Jabotinsky, é uma reinterpretação da famosa história bíblica de Sansão, um dos juízes de Israel, cuja força extraordinária e eventual queda nas mãos de Dalila são temas centrais. Jabotinsky, conhecido como o fundador do sionismo revisionista, oferece uma visão profundamente introspectiva e filosófica da vida de Sansão, inserindo reflexões modernas sobre poder, identidade e o destino dos povos.
A narrativa segue de perto o enredo bíblico, começando com a apresentação de Sansão, um homem dotado de uma força sobre-humana, destinada a libertar o povo de Israel da opressão dos filisteus. Ele é escolhido desde o nascimento, com sua força ligada a um voto de nazireado que o proíbe de cortar o cabelo. Ao longo da história, Sansão é apresentado como um personagem dividido entre sua missão divina e seus desejos humanos, o que o torna uma figura complexa e muitas vezes trágica.
Jabotinsky explora a psicologia de Sansão, mostrando-o como um homem solitário e incompreendido, cujas ações muitas vezes parecem irracionais, mas são movidas por um desejo profundo de liberdade para seu povo e de autoafirmação. O autor também oferece uma visão mais rica e complexa da personagem de Dalila, que, na versão de Jabotinsky, é muito mais do que a simples traidora que aparece no relato bíblico tradicional. Dalila é uma mulher com motivações próprias, que compreende e manipula as fraquezas de Sansão, mas também é, em certo sentido, uma vítima das circunstâncias.
Um dos temas centrais do romance é o conflito entre opressores e oprimidos. Jabotinsky desenha os filisteus não como vilões unidimensionais, mas como um povo sofisticado e complexo, cuja dominação de Israel é o resultado de uma civilização em ascensão. Por outro lado, os israelitas, na visão de Jabotinsky, são um povo subjugado, que luta para sobreviver em um mundo onde a força e a astúcia determinam o destino das nações.
A relação entre Sansão e Dalila é tratada com profundidade psicológica, refletindo a tensão entre paixão e traição. Dalila, como uma agente ativa na queda de Sansão, simboliza a fragilidade da confiança e o poder destrutivo do desejo. Sansão, por sua vez, é tragado por seu próprio orgulho e por sua incapacidade de ver além de suas paixões imediatas.
O desfecho da história, onde Sansão recupera sua força pela última vez para derrubar o templo dos filisteus e se sacrificar junto com seus inimigos, é tratado por Jabotinsky como um momento de redenção e de vingança trágica. No entanto, o autor também o apresenta como uma metáfora para o destino dos oprimidos que, diante de uma força esmagadora, encontram a libertação através do sacrifício.
O romance de Jabotinsky não é apenas uma recriação fiel do conto bíblico, mas uma reflexão profunda sobre temas universais, como o poder, a traição, o amor, e o destino. “Sansão e Dalila” examina a luta pela identidade e a busca de sentido em um mundo cruel e injusto, onde os indivíduos, mesmo os mais poderosos, são impotentes diante das forças do destino e da história.