A obra ambienta-se no Rio de Janeiro do ano de 1891 e retrata a jornada da família Teodoro, liderada por Francisco Teodoro, imigrante português que ascendeu no comércio de café, casado com Camila, sua esposa de origem humilde e de modos estimados. Ele via no negócio e na prosperidade material o sentido de sua existência, enquanto Camila vivia entre os afazeres da casa e uma insatisfação silenciosa com o vazio que a riqueza não conseguia preencher. A narrativa já alerta que não se trata apenas de uma crise econômica: trata-se da falência de valores, laços e identidades.
Com o passar do tempo, o impulso especulativo de Francisco Teodoro o leva a investimentos arriscados na economia cafeeira, contrariando avisos e ignorando sinais de instabilidade. O negócio que sustentava a família ruína-se, e a falência irrompe como evento traumático: ele se suicida, deixando Camila e os filhos à mercê da nova realidade. Esse acontecimento marca a virada: a queda material coincide com a derrubada das aparências e com a necessidade de repensar o papel de cada um dentro da família e da sociedade.
A crise econômica desestabiliza não apenas o patrimônio, mas sobretudo as relações internas da família. Os filhos percebem que o mundo não mais lhes oferece privilégios automáticos, e Camila, antes resignada, passa a questionar o seu lugar, sua autonomia e o valor de uma vida construída apenas sobre prestígio social. A autora insere nesse contexto reflexões sobre adultério, traição e o papel feminino: Camila dialoga com o médico Gervásio e reconhece que a traição masculina é camuflada pela hipocrisia social.
A obra se inscreve na estética do realismo-naturalismo, com linguagem objetiva, crítica social à elite burguesa carioca e traços de determinismo que sugerem que o ambiente e as condições sociais condicionam os destinos humanos. O romance articula temas como trabalho, raça, gênero e classe, revelando como a ascensão social recente da burguesia implicava em fragilidade e tensão. Pesquisas apontam a articulação entre trabalho e traição no casal protagonista, mostrando como o contexto social molda comportamentos individuais.
No desmantelamento da fortuna e da posição social, Camila enfrenta a pobreza e aprende a recorrer ao trabalho e ao seu próprio protagonismo feminino como meios de sobrevivência e reconstrução. Seu protagonismo aponta para uma ruptura de perfis sociais tradicionais exigidos às mulheres da época. A falência da família Teodoro torna-se metáfora da falência de um sistema que sustentava privilégios e hierarquias – e ao mesmo tempo oferece uma possibilidade de recomeço em novos termos.
A narrativa também evidencia o contraste entre ostentação e queda, destacando ambientes luxuosos da mansão familiar no bairro de Botafogo e a transição para uma moradia simples após a ruína. Essa mudança física ilustra a queda de status e a necessidade de ressignificar identidades: o luxo era símbolo de estabilidade, e sua perda expõe a fragilidade da segurança que parecia permanente.
O livro enfatiza que a busca desenfreada por riqueza e aparências não garante felicidade nem segurança. As relações familiares e os valores humanos tornam-se centrais diante da adversidade. A autora mostra como a crise financeira desperta novas responsabilidades, amadurecimento e a reconstrução moral, sugerindo que a verdadeira riqueza está na dignidade, na solidariedade e na força interior.
Por fim, a obra propõe uma reflexão atemporal: o valor das relações humanas, da dignidade e da honestidade frente à busca desenfreada por riqueza e aparências. O empobrecimento material impõe uma crise moral e existencial, e a autora convida o leitor a questionar quais são os verdadeiros pilares de uma vida significativa. É uma obra que ultrapassa seu contexto histórico e continua relevante nos debates sobre gênero, classe e valores.

