O livro Fake News propõe uma reflexão sobre o fenômeno crescente da desinformação digital, mostrando que chamar tudo de “notícia falsa” ou “fake news” não comporta a complexidade do cenário contemporâneo. Wardle defende que devemos pensar em “desordem informativa” (information disorder) em vez de simplesmente “fake news”, já que muitas peças enganosas não são totalmente fabricadas ou intencionalmente falsas. A autora aponta que conteúdos errados, manipulados ou mal contextualizados proliferam em ambientes digitais e redes sociais. O livro traz exemplos de como as notícias falsas se espalham e como impactam a percepção pública.
A obra distingue três grandes categorias de problemas informativos: a informação errada (“mis‑information”), a desinformação (“dis‑information”) e a mal‑informação (“mal‑information”). Em mis‑information, as pessoas compartilham algo falso sem intenção de dano; em dis‑information, há intenção deliberada de enganar; em mal‑information, o conteúdo é verdadeiro, mas usado para causar dano ou manipular. Com isso, Wardle demonstra que a complexidade vai além da simples falsidade. O livro reforça que diferentes estratégias são necessárias para lidar com cada tipo.
Além disso, Wardle lista sete tipos específicos de conteúdo problemático, como sátira ou paródia, conexão falsa, conteúdo enganoso, contexto falso, conteúdo impostor, conteúdo manipulado e conteúdo totalmente fabricado. Essa classificação ajuda a compreender como as diferentes formas operam e se propagam. Ela mostra que uma abordagem única não é suficiente para combater a desinformação. A autora oferece exemplos de cada categoria para tornar o conceito mais claro.
A autora dedica ainda atenção às motivações e aos meios de disseminação desses conteúdos: lucro, influência política, provocação, agência social, mídia pobre ou amadora são algumas das causas que impulsionam a desordem informativa. Nos canais de disseminação, eventos como compartilhamentos involuntários por usuários, amplificação por jornalistas, grupos pouco conectados e campanhas sofisticadas com bots desempenham papel relevante. Wardle enfatiza a importância de compreender esses mecanismos para criar estratégias de combate à desinformação.
Wardle também examina o papel dos receptores no ecossistema informativo digital: cada usuário, ao curtir, compartilhar ou comentar uma peça enganosa, reforça sua disseminação e contribui para o ambiente de desinformação. O livro sublinha que a alfabetização midiática, o pensamento crítico e a verificação de fontes deveriam fazer parte da rotina de quem consome informação online. Ela propõe que o engajamento consciente é uma ferramenta poderosa contra a propagação de notícias falsas.
Outro ponto enfatizado é que rotular genericamente todo conteúdo indesejado como “fake news” pode ser problemático, porque essa etiqueta foi apropriada por atores poderosos para desacreditar mídia independente ou silenciar críticas. Wardle alerta que precisamos de precisão conceitual e vigilância sobre como o termo “fake news” é mobilizado politicamente. Ela defende que uma análise criteriosa ajuda a separar o sensacionalismo da manipulação real.
O livro oferece, finalmente, propostas práticas para atores diversos (usuários, jornalistas, plataformas, formuladores de política) agirem: promover transparência nos processos de verificação, disponibilizar ferramentas de media literacy, adotar métricas de disseminação de informação e colaborar para que o ecossistema digital seja menos propenso à manipulação. A ação coletiva, segundo Wardle, é essencial para mitigar os riscos da desordem informativa. Ela ressalta que tecnologia e educação devem andar juntas nesse esforço.
Em síntese, Fake News de Claire Wardle convida à reflexão crítica sobre o que entendemos por notícia falsa, propondo maior nuance e ação sistemática frente ao desafio da desinformação em tempos digitais. O livro serve tanto como diagnóstico quanto como guia para respostas informadas. Ele é recomendado para qualquer pessoa interessada em compreender a complexidade da informação no século XXI e em como combatê-la de forma consciente.

