A Polaquinha, de Dalton Trevisan, é uma novela urbana que retrata com crueza e intensidade a relação entre um advogado de meia-idade e uma jovem prostituta, apelidada de Polaquinha. Publicada em 1985, a obra se insere na tradição literária de Trevisan, conhecido por seu estilo conciso, fragmentado e pela representação amarga das relações humanas, sempre ambientadas em Curitiba, cidade que o autor transforma em um verdadeiro microcosmo das tensões sociais e afetivas brasileiras.
A narrativa acompanha os encontros entre o protagonista, um homem respeitável aos olhos da sociedade, e a jovem Polaquinha, que se prostitui para sobreviver. O choque entre os dois mundos – o da respeitabilidade burguesa e o da marginalidade feminina – constitui o centro do enredo. Trevisan, sem recorrer a descrições longas, constrói um retrato marcado pela violência simbólica e pela exploração que se manifesta nas interações do casal.
O advogado, apesar de sua posição social, revela-se um homem solitário, carente e agressivo. Em sua relação com a Polaquinha, exerce poder, mas ao mesmo tempo expõe fragilidades, contradições e uma busca desesperada por vitalidade. Já a jovem, por trás da submissão aparente, mostra astúcia, resistência e a dureza de quem aprendeu a sobreviver em meio ao abandono e à desigualdade.
O estilo de Dalton Trevisan é marcado por diálogos rápidos, secos e cortantes, que substituem descrições tradicionais. Isso faz com que a narrativa avance como um mosaico de fragmentos, em que cada palavra sugere mais do que diz. O leitor é convidado a preencher as lacunas, sentindo a tensão latente nas entrelinhas e a atmosfera sufocante das relações.
A relação entre o advogado e a Polaquinha não é apenas amorosa ou sexual, mas também social e existencial. Ele, representante da classe média estabelecida, busca na jovem prostituta uma vitalidade que perdeu; ela, por sua vez, vê nele uma possibilidade de sustento, mas também a encarnação de um mundo hipócrita que a rejeita e a explora.
Em muitos momentos, a narrativa desvela a degradação do protagonista, que, embora tente impor domínio, revela-se cada vez mais dependente da presença da Polaquinha. O jogo de poder se inverte de forma sutil, mostrando que, mesmo em condição marginal, a jovem carrega uma força que escapa ao controle masculino.
O cenário curitibano, com sua frieza e anonimato, é também um elemento essencial da obra. Dalton Trevisan faz da cidade um palco para a solidão, para encontros clandestinos e para o vazio existencial dos personagens. A urbe é quase um personagem, refletindo a dureza e a fragmentação que marcam as vidas narradas.
Mais do que uma história de amor proibido, A Polaquinha é um retrato do desencanto, da degradação dos sentimentos e da impossibilidade de relações autênticas em um contexto marcado por hipocrisia, desigualdade e violência de gênero. Trevisan não oferece alívio ou redenção; ao contrário, expõe com brutalidade a condição humana em sua precariedade.
Por fim, o livro reafirma a marca inconfundível do “vampiro de Curitiba”: narrativas curtas, cheias de silêncios eloquentes, em que a banalidade da vida cotidiana é atravessada por crueldade e desespero. A Polaquinha permanece como uma das obras mais representativas de Dalton Trevisan, condensando seu olhar cortante sobre a solidão, o desejo e as contradições da sociedade brasileira.