“As Mulheres de Tijucopapo”, escrito por Marilene Felinto e publicado em 1982, é um romance que explora questões de identidade, gênero e resistência feminina no contexto do Nordeste brasileiro. A obra se passa na cidade fictícia de Tijucopapo, localizada em Pernambuco, e combina elementos de realismo mágico, história e crítica social.
A protagonista, Rísia, é uma mulher nordestina que retorna a Tijucopapo, sua terra natal, em busca de reconexão com suas raízes e sua história pessoal. Ela é movida por uma necessidade de reencontrar a força das mulheres de sua ancestralidade e de entender seu lugar em um mundo marcado por desigualdade e violência. Tijucopapo, nome que remete a um evento histórico de resistência contra invasores holandeses no século XVII, torna-se um símbolo da luta e da resiliência feminina.
O romance é fortemente marcado por questões de gênero, com as mulheres desempenhando papéis centrais na trama. Marilene Felinto apresenta mulheres fortes, que enfrentam desafios diários como a pobreza, a discriminação e a opressão patriarcal. Essas mulheres, tanto na ficção quanto na história da própria Tijucopapo, simbolizam a resistência, enfrentando suas dificuldades com coragem e determinação.
Além disso, “As Mulheres de Tijucopapo” aborda a relação entre o urbano e o rural, contrastando a vida de Rísia na cidade grande com a realidade de Tijucopapo. Esse confronto entre espaços revela a tensão entre modernidade e tradição, com a cidade representando o progresso e a desconexão com as raízes, enquanto a pequena vila é o local de memória, história e identidade.
A narrativa de Felinto é rica em imagens poéticas e em uma linguagem que mistura o lírico com o coloquial, refletindo a diversidade cultural e linguística do Brasil. O uso do realismo mágico em alguns momentos do romance permite a autora explorar temas como a espiritualidade, os mitos e a ancestralidade de maneira simbólica, conferindo à obra uma dimensão onírica e atemporal.
Um dos aspectos mais notáveis da obra é a representação das mulheres como figuras de resistência coletiva. Elas não apenas lutam por si mesmas, mas também em nome de uma comunidade e de uma história maior. Ao situar a trama em um cenário histórico de resistência contra a invasão estrangeira, Felinto cria um paralelo com a luta contemporânea das mulheres por direitos e igualdade, especialmente no contexto de marginalização social.
“As Mulheres de Tijucopapo” é, portanto, uma obra profundamente feminista, que questiona os papéis impostos às mulheres e celebra sua força e sua capacidade de transformação. Marilene Felinto constrói um relato que é, ao mesmo tempo, um tributo à resistência feminina e uma crítica às estruturas sociais que perpetuam a opressão.