“O Presidente Negro”, escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1926, é um romance futurista que se passa no ano de 2228. A obra explora temas como o racismo, a segregação racial, e o impacto da tecnologia no futuro da humanidade. O romance, ambientado nos Estados Unidos, retrata uma eleição presidencial em que, pela primeira vez, um candidato negro, Jim Roy, disputa o cargo mais alto do país. Ele concorre contra o candidato branco Kerlog e a candidata feminista Evelyn Astor.
A trama se desenvolve através das observações de um cientista brasileiro, chamado Benson, que, por meio de um dispositivo tecnológico chamado “porviroscópio” (uma espécie de televisão futurista que permite ver o futuro), acompanha os acontecimentos da eleição presidencial americana. O “porviroscópio” é um dos elementos centrais do livro e simboliza a curiosidade humana em prever o futuro, além de destacar o poder da tecnologia.
Lobato constrói uma narrativa que aborda questões raciais de forma controversa. No decorrer do romance, observa-se uma polarização crescente entre brancos e negros nos Estados Unidos. A trama culmina em um desfecho polêmico, no qual os brancos, temendo a ascensão do candidato negro, decidem aplicar uma solução eugenista, esterilizando a população negra para evitar que se reproduzam. Esse final reflete as ideias racistas e eugenistas que eram debatidas em certos círculos intelectuais no início do século XX.
Além de sua visão distópica do futuro, “O Presidente Negro” levanta debates sobre igualdade racial, poder e controle social. Entretanto, o livro também expõe visões problemáticas de Monteiro Lobato sobre raça, sendo frequentemente criticado por seu viés racista. As ideias retratadas no romance, particularmente a defesa implícita de soluções raciais extremas, tornam a obra alvo de reflexões e debates acadêmicos nos dias de hoje.
A personagem Evelyn Astor também ganha destaque na obra, representando as lutas feministas da época. Sua candidatura à presidência simboliza as aspirações das mulheres por igualdade de direitos e participação política, um tema que ainda ressoava com força no contexto das primeiras décadas do século XX.
O estilo de Lobato no livro é marcado por um tom satírico e provocativo, características comuns em suas obras. Ele utiliza o cenário futurista para criar uma crítica social do seu tempo, abordando o racismo e o feminismo, mas sem se eximir de adotar uma visão problemática e polêmica sobre os temas.
Em resumo, “O Presidente Negro” é uma obra que mescla ficção científica com questões sociais, trazendo à tona discussões sobre raça e gênero que continuam relevantes. Contudo, é preciso analisá-lo criticamente, tendo em mente as complexas e controversas ideias que Monteiro Lobato insere na narrativa, algumas das quais refletem preconceitos arraigados de sua época.