“A Cobra que Perdeu o Medo”, de Heloisa Prieto, é uma fábula contemporânea que mistura elementos do folclore, da natureza e do autoconhecimento para contar a história de uma cobra que aprende, aos poucos, a transformar sua maneira de ver o mundo e a si mesma. A narrativa é marcada por linguagem poética, simbolismos e reflexões que dialogam com leitores de todas as idades.
No início do livro, somos apresentados a uma jovem cobra que vive isolada, tomada pelo medo constante de tudo ao seu redor. Ela teme os outros animais, os sons da floresta e até mesmo seus próprios pensamentos. Esse medo é tão profundo que a impede de viver com liberdade, restringindo seus movimentos e suas escolhas. A floresta, com seus encantos e perigos, se transforma em um labirinto de ameaças para a pequena serpente.
À medida que a história avança, a cobra começa a se questionar sobre a origem de seus medos. Esse processo de reflexão é despertado por encontros com outros animais, cada um trazendo uma nova perspectiva sobre a vida. Um dos primeiros a dialogar com ela é o sabiá, que a incentiva a ouvir mais e temer menos, revelando que o medo nem sempre protege, e pode até aprisionar.
Outros personagens vão se somando ao enredo, como um sapo sábio, uma onça velha e até um filhote de tatu, todos contribuindo para que a cobra repense sua maneira de viver. Esses encontros se tornam momentos de aprendizado e trocas simbólicas, pois cada animal representa uma faceta da vida: coragem, sabedoria, humor, intuição.
Com o tempo, a cobra percebe que muitos dos seus medos nasceram não da realidade, mas das histórias que ouviu ou imaginou. Ela compreende que enfrentar o desconhecido não significa eliminar o medo, mas aprender a caminhar com ele. Esse amadurecimento transforma sua relação com o mundo, e ela passa a explorar a floresta com mais curiosidade e menos receio.
Heloisa Prieto conduz a narrativa de forma sensível, tratando o medo não como fraqueza, mas como parte natural da experiência de crescer. A cobra não se torna destemida de forma mágica; ela aprende, passo a passo, a confiar em si mesma. Isso a liberta da paralisia inicial e abre caminho para novas possibilidades de convivência e descoberta.
O cenário da floresta, tão vivo e misterioso, serve como metáfora para a vida interior da personagem. À medida que a cobra se aventura pelos cantos desconhecidos do ambiente, ela também mergulha em seu próprio mundo interno, descobrindo força onde antes havia apenas insegurança. A natureza é, assim, personagem e espelho dessa jornada de transformação.
No desfecho do livro, a cobra já não é mais a mesma. Ela mantém a memória do medo, mas agora caminha com confiança, sabendo que crescer exige atravessar sombras. O livro encerra com uma mensagem de esperança e de empoderamento, destacando que a coragem é construída na escuta, no afeto e na disposição para mudar.
“A Cobra que Perdeu o Medo” é, portanto, mais do que uma fábula infantil. É uma história sobre a potência do autoconhecimento, sobre a importância das relações e sobre como a escuta sensível pode abrir caminhos para a liberdade interior. Com lirismo e delicadeza, Heloisa Prieto oferece ao leitor uma narrativa profunda, que ressoa com verdades universais sobre o medo e a coragem.