“Inception: The Shooting Script”, publicado por Christopher Nolan, é a versão oficial do roteiro do aclamado filme A Origem, que combina ficção científica, ação e drama psicológico. O roteiro oferece uma imersão profunda no universo complexo dos sonhos compartilhados e explora temas como realidade, culpa, memória e redenção por meio de uma estrutura narrativa sofisticada.
A história gira em torno de Dom Cobb, um especialista em extração — a arte de invadir os sonhos de outras pessoas para roubar segredos de seu subconsciente. Marcado por um passado trágico e acusado de um crime que não cometeu, Cobb vê a chance de retornar para casa com seus filhos ao aceitar um desafio inédito: não extrair uma ideia, mas inseri-la. Essa missão, conhecida como “inception”, é o cerne do roteiro.
O trabalho encomendado por Saito, um poderoso empresário, consiste em plantar uma ideia na mente de Robert Fischer, herdeiro de um império corporativo. Para isso, Cobb monta uma equipe especializada, formada por Ariadne, a arquiteta dos sonhos; Arthur, seu parceiro de longa data; Eames, o falsificador; Yusuf, o químico; e o próprio Saito, que exige participar da missão.
O roteiro detalha a complexidade da arquitetura dos sonhos: camadas de sonhos dentro de sonhos, onde o tempo se dilata e as leis da física são moldáveis. Christopher Nolan constrói essas camadas com precisão técnica e simbólica, usando o roteiro para deixar claros os níveis de profundidade narrativa e os riscos crescentes conforme a equipe desce para níveis cada vez mais instáveis da mente de Fischer.
A personagem Ariadne é essencial ao roteiro como figura de aprendizado e guia do espectador. Ela questiona Cobb sobre os limites éticos de sua atuação e o confronta sobre sua projeção de Mal, sua falecida esposa, que constantemente sabota as missões e representa sua culpa inconsciente. Mal simboliza o trauma não resolvido de Cobb, e sua presença afeta diretamente o sucesso da missão.
O roteiro enfatiza o uso do “totem” — um objeto pessoal que permite ao sonhador saber se está ou não em um sonho. O pião de Cobb se torna um ícone narrativo, especialmente no final ambíguo da história, em que o roteiro mantém a dúvida sobre se Cobb realmente acordou ou permanece preso em uma ilusão criada por seu próprio desejo.
As cenas de ação, descritas em detalhes técnicos no script, são fundamentais para equilibrar o ritmo intelectual da trama. O roteiro utiliza esses momentos para explorar o conceito de tempo relativo entre os diferentes níveis do sonho, criando sequências paralelas com precisão matemática e cinematográfica impressionante.
Nolan também inclui descrições visuais precisas no roteiro, o que evidencia sua visão autoral como roteirista e diretor. Ele explora simbolismos visuais recorrentes — como escadas impossíveis, espelhos e cidades dobradas — que reforçam a instabilidade da realidade e o poder da mente na construção de mundos fictícios.
Ao final do roteiro, Inception: The Shooting Script revela-se mais do que um documento técnico: é um estudo denso sobre consciência, perda e reconstrução. Christopher Nolan oferece ao leitor a oportunidade de entender como um roteiro pode ser, ao mesmo tempo, uma engrenagem narrativa e uma peça de filosofia moderna sobre o que é real, o que é sonho e até que ponto estamos dispostos a acreditar em nossa própria verdade.