Publicado em 1876, O Cabeça de Cavalo, de Franklin Távora, é um dos romances mais expressivos do regionalismo romântico nordestino, integrando o projeto literário do autor de retratar os costumes, as lutas e a vida social do interior do Ceará e de Pernambuco. A narrativa se insere no movimento que ficou conhecido como “literatura do Norte”, com a proposta de valorizar o sertão e suas particularidades diante da hegemonia literária do Rio de Janeiro.
A trama gira em torno de Gonçalo Cabeça de Cavalo, um homem rude, violento e temido na região, que personifica a dureza e os conflitos do sertão. A alcunha “Cabeça de Cavalo” não apenas o distingue, mas reforça a ideia de brutalidade e de força desmedida, símbolos do ambiente hostil em que vive. Franklin Távora utiliza o personagem para explorar os dilemas sociais e morais de um mundo regido por códigos de honra e vingança.
O romance apresenta ainda a jovem Águeda, figura feminina central, que representa a pureza e o ideal romântico em contraste com a aspereza do sertão. Seu destino, marcado por paixões e disputas, é conduzido por um enredo em que amor, violência e tradição se entrelaçam. A relação entre Águeda e outros personagens evidencia o choque entre o desejo individual e as normas rígidas de uma sociedade patriarcal.
Um dos pontos mais fortes da narrativa é a ênfase no ambiente sertanejo, descrito em suas paisagens, secas, vaqueiros e modos de vida. Franklin Távora retrata com minúcia os costumes locais, as festas, as tradições orais e os dramas sociais. Essa ambientação confere à obra caráter documental e reforça o projeto do autor de construir uma identidade literária própria para o Norte e o Nordeste.
A figura de Cabeça de Cavalo é também simbólica: representa a violência latente do sertão e a dificuldade de conciliação entre os instintos primitivos e os ideais de civilização. O personagem é construído com traços de um anti-herói, em quem a brutalidade convive com momentos de humanidade, revelando a complexidade psicológica dos homens sertanejos.
A narrativa, contudo, não se limita a registrar a violência. Ela também aborda temas como o amor proibido, a luta pela sobrevivência, a honra e os códigos sociais de um ambiente em que a lei oficial muitas vezes cede espaço à justiça feita pelas próprias mãos. Nesse sentido, O Cabeça de Cavalo combina o tom épico da vida sertaneja com a sensibilidade romântica.
O estilo de Franklin Távora é marcado pela linguagem regional, incorporando expressões populares, ditados e construções próprias do sertanejo. Essa opção dá autenticidade à obra e reforça a intenção de representar fielmente a fala e o cotidiano do povo nordestino, diferenciando-a da literatura urbana do período.
Assim, O Cabeça de Cavalo é mais que um romance: é um manifesto literário em defesa da valorização do sertão brasileiro. A obra afirma Franklin Távora como um precursor do regionalismo no Brasil, antecipando preocupações que mais tarde seriam retomadas no modernismo e no romance de 30. É uma narrativa que combina tragédia, crítica social e pintura realista dos costumes, consolidando-se como