A história se passa em São Petersburgo, durante o verão, quando as noites são claras e quase sem escuridão, fenômeno que dá nome à obra. O protagonista, um jovem sonhador e solitário, vive mergulhado em seus pensamentos e devaneios. Seu isolamento emocional é profundo, apesar de morar em uma cidade cheia de pessoas. Ele sente que não pertence a lugar algum e prefere sua própria imaginação à vida real. Essa atmosfera melancólica e introspectiva marca o tom do livro desde o início.
Durante um de seus passeios noturnos, o sonhador conhece Nástienka, uma jovem que também parece deslocada e triste. Eles rapidamente se conectam e iniciam uma conversa que se estende por várias noites. A cada encontro, compartilham memórias, esperanças e frustrações, criando uma intimidade rara e intensa. Ambos encontram consolo na presença um do outro, como se por fim tivessem sido vistos de verdade. O leitor percebe uma forte tensão emocional crescendo entre os dois.
Nástienka revela que está esperando por um homem com quem havia combinado de fugir, mas que desapareceu. Ela vive com sua avó cega e tem uma vida de muita repressão e solidão. O sonhador, mesmo apaixonando-se por ela, decide ajudá-la a reencontrar o antigo amor. Sua escolha é movida por um sentimento de abnegação e pureza. Ele prefere vê-la feliz, mesmo que isso signifique abrir mão de sua própria felicidade.
A relação entre os dois simboliza o conflito entre sonho e realidade. O sonhador representa o mundo idealizado, onde sentimentos puros e profundos guiam as decisões. Já Nástienka vive entre a esperança romântica e a dureza das circunstâncias reais. Dostoiévski constrói os diálogos com grande sensibilidade, revelando o quanto a mente humana pode criar mundos paralelos. A noite se torna o espaço onde as emoções encontram liberdade, fugindo da rigidez do dia.
Conforme os encontros avançam, o sonhador sente-se mais vivo do que nunca, como se tivesse finalmente saído do casulo da solidão. Ele passa a imaginar um futuro com Nástienka, mesmo sabendo que ela espera por outro. A presença dela traz cor e significado à sua existência. Pela primeira vez, ele se permite sonhar com reciprocidade e amor verdadeiro. No entanto, a fragilidade dessa esperança sempre parece prestes a se romper.
Em um dos momentos mais delicados da obra, o antigo amor de Nástienka reaparece e ela decide partir com ele. O sonhador, devastado, aceita a decisão com resignação e tristeza profunda. Mesmo sofrendo, ele guarda gratidão pelos breves momentos de conexão que viveu. Essa atitude revela sua nobreza e capacidade de amar sem egoísmo. O final é melancólico, mas carrega beleza na honestidade dos sentimentos.
Dostoiévski cria uma narrativa breve, mas intensamente emocional, explorando os limites entre ilusão e realidade. O autor não julga seus personagens, apenas os apresenta com humanidade. A solidão, o desejo de amar e ser amado, e o medo do abandono são temas centrais. A cidade e suas noites claras servem como pano de fundo para uma história interior, silenciosa, porém poderosa. Cada palavra é carregada de significado existencial.
A leitura de Noites Brancas é um convite à introspecção e à empatia. É uma obra que fala com todos que já se sentiram invisíveis, ou que amaram em silêncio. Ao mesmo tempo que mostra a beleza do amor ideal, revela sua fragilidade diante da realidade. O protagonista nos ensina que mesmo um amor não correspondido pode ser transformador. E que, às vezes, os sonhos, mesmo breves, são tudo que temos.