Neste livro, Merton explora a oração não apenas como uma prática religiosa comum, mas como uma profunda experiência de louvor e entrega ao divino. Ele propõe que a oração verdadeira vai além de palavras, rituais ou pedidos: trata‑se de um encontro com Deus que transforma o orante. O autor enfatiza que a entrega é um ato de abandono confiante à vontade de Deus, permitindo que o louvor brote espontaneamente do coração. Ao longo da obra, Merton convida o leitor a ver a oração como um espaço de liberdade onde se responde ao amor divino e se abandona o controle próprio.
Ele distingue entre diferentes dimensões da oração: a vocal ou discursiva (palavras, fórmulas) e a contemplativa ou silenciosa, onde se experimenta a presença de Deus “em nós”. Nessa vertente contemplativa, a oração se converte em “estar” e não apenas em “fazer”, em “ser” e não somente “dizer”. Merton aponta que esse tipo de oração exige silêncio interior, humildade e desprendimento das preocupações egoístas. A entrega no silêncio revela uma nova forma de louvor que não depende de brilhantismo ou de visibilidade, mas de uma escuta amorosa e confiante.
Outra ênfase do autor é a relação entre oração, humildade e obediência. Ele afirma que orar é, em sua essência, obedecer: é aceitar que Deus fale e transforme, e que nosso papel seja acolher‑lhe a ação. Aí a entrega torna‑se resposta livre à iniciativa divina, e o louvor surge como agradecimento por esse encontro. Merton lembra que no mistério da oração, o ser humano se descobre pequeno, dependente e amado — e esse reconhecimento aprofunda a entrega. A obra insiste que a verdadeira oração não busca primeiramente resultados observáveis, mas o “eu” que se une a Deus.
Merton também aborda obstáculos à oração autêntica: prisões interiores como o egoísmo, a ansiedade, a dispersão, o desejo de controlar ou de obter respostas imediatas. Ele separa a oração autêntica da mera atividade religiosa ou da repetição mecânica. O autor adverte que, para entrar no nível da entrega e do louvor, é preciso coragem de enfrentar a própria fragilidade, o silêncio incômodo, a espera e a aparente “seca espiritual”. Nesse caminho, o vazio se torna oportunidade para que Deus habite e atue.
Ao longo do livro, ele relaciona a experiência da oração com a vida cotidiana — o “mundo” não está excluído da oração, mas a oração transforma como vemos o mundo e como agimos nele. Merton sustenta que contemplar Deus leva a uma vida mais plena, atenta ao outro, mais livre das amarras do ego e das estruturas do poder. A entrega não é fuga, mas inserção mais profunda no amor de Deus que se manifesta também no serviço, na justiça, na compaixão. O louvor que nasce da entrega inspira uma ação mais verdadeira no mundo.
A dimensão trinitária destaca‑se: Merton vê a oração como comunhão com o Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Essa visão abre para uma confiança de que Deus habita no íntimo do orante e que a oração não é “dar algo a Deus”, mas “receber a Deus”. Nesse movimento, o louvor é reconhecimento de que fomos criados por amor e estamos caminhando para o encontro. A entrega então assume o formato de um “sim” livre, repetido, que responde ao “eu te escolho” de Deus.
Em síntese, A Oração: Experiência de Louvor e Entrega oferece‑se como um guia de espiritualidade para quem deseja viver a oração como experiência radical de amor, entrega e transformação. Merton não promete fórmulas fáceis, mas convida ao caminho exigente — silencioso, humilde, livre — que leva ao louvor autêntico e à entrega total. A leitura desperta para uma oração mais viva, mais integrada à vida e aberta à presença de Deus no interior e no mundo.

