A narrativa se passa em 1886, numa vila fictícia do interior de São Paulo, chamada Araruna, quando o Brasil ainda vivia o regime escravocrata. A jovem Sinhá Moça retorna da capital para a fazenda de seu pai, o implacável Barão de Araruna, dono de terras e de escravos, e passa a confrontar os valores da família. Ela logo se envolve com Rodolfo Fontes, um jovem advogado recém‑formado que defende ideias abolicionistas e republicanas, entrando em conflito direto com a herança dos Araruna. A autora mostra o embate entre os ideais emergentes de liberdade e os resquícios da escravidão como estrutura social.
Na fazenda, os negros vivem sob condições brutais, submetidos ao autoritarismo do Barão e à crueldade do feitor e demais capatazes. A obra retrata os horrores do tronco, das punições e da vida forçada nas senzalas, manifestando o cotidiano de opressão de que eram vítimas. Sinhá Moça, sensibilizada pela realidade em que cresce, começa a atuar em favor dos escravizados — às vezes diretamente, outras vezes por meio da influência que assume entre os brancos da região. Essa postura gera fortes tensões familiares e sociais, pois desafia os laços de poder e dominação vigentes.
Ao longo da trama, segredos são revelados: nas relações entre mestiços, negros, brancos e alforriados, encontram‑se histórias de injustiça, identidade perdida e desejo de reparação. A autora expõe também a fragilidade das estruturas tradicionais diante de transformações morais e históricas. Há ainda o contraste simbólico entre a figura feminina de Sinhá Moça — educada, intelectual e sensível — e o patriarca Barão, que representa o velho regime.
Esse contraste permite à narrativa explorar os limites entre tradição e progresso, entre o silêncio e a voz que se ergue contra a servidão. Rodolfo e Sinhá Moça protagonizam momentos de tensão e afeto, que simbolizam a possibilidade de conciliação entre ideais e afetos humanos. A presença dos escravizados como personagens centrais, com suas próprias histórias e resistências, fortalece a narrativa de transformação social e moral. A obra mostra que a mudança começa na consciência individual, mas se reflete na coletividade.
Quando a abolição se aproxima e o sistema que sustentava a fortuna da família Araruna começa a ruir, a trama atinge seu ápice: libertações, confrontos e reconciliações marcam o desfecho. A mudança social ganha corpo em meio à redenção individual de personagens que antes pareciam irreversíveis. A obra evidencia o impacto das escolhas de caráter e da coragem em tempos de injustiça institucionalizada. A justiça histórica e o amor se entrelaçam, gerando esperança para um novo tempo.
Sinhá Moça, ao assumir sua posição de voz ativa contra a escravidão, inspira aqueles à sua volta a questionarem a autoridade e a injustiça. O enredo mostra que a luta pela liberdade não é apenas política, mas ética e espiritual. A autora também destaca o papel da mulher nesse contexto, mostrando como a sensibilidade, a inteligência e a coragem feminina podem transformar vidas. A narrativa combina romance, crítica social e reflexão histórica.
Ao final, a obra reforça a importância da educação, da empatia e da ação consciente para promover mudanças sociais. O amor de Sinhá Moça e Rodolfo representa mais do que romance: simboliza a união de forças em prol de um ideal maior de justiça e humanidade. A transformação não se limita à abolição da escravidão, mas se estende ao coração das pessoas e à reconstrução de laços sociais. A narrativa termina com uma mensagem de esperança, coragem e responsabilidade social.
O livro é, portanto, uma reflexão sobre liberdade, coragem e justiça, destacando o papel ativo da mulher e da juventude em processos de transformação social. Maria Dezonne Pacheco Fernandes constrói personagens complexos que enfrentam dilemas morais e históricos, proporcionando aos leitores uma experiência rica em aprendizado histórico e humano. A obra permanece relevante como fonte de reflexão sobre preconceito, poder e consciência ética.

