O livro trata do período final da ditadura militar brasileira, abordando os anos de 1974 a 1985, quando o regime enfrentava crescente desgaste político e social. Gaspari detalha os bastidores do governo, mostrando decisões estratégicas, pressões econômicas e tensões internas entre os militares. O autor destaca a transição gradual de um regime autoritário para a democracia, evidenciando o papel da sociedade civil e dos movimentos políticos. A narrativa combina rigor histórico com narrativa jornalística, permitindo compreender os acontecimentos com profundidade.
A obra mostra como a crise econômica, marcada pela inflação e pelo endividamento externo, pressionou o governo e estimulou reformas econômicas e políticas. Gaspari analisa os impactos das políticas do “Milagre Econômico” e suas consequências para a população, revelando desigualdades e tensões sociais. O autor explica como a dificuldade de manter controle absoluto aumentou a influência de grupos civis e partidos políticos. A pressão por abertura política tornou-se inevitável diante de protestos e críticas crescentes.
O livro descreve os governos militares sucessivos, destacando a transição entre Médici, Geisel e Figueiredo, com ênfase na estratégia de abertura lenta e segura. Gaspari mostra como o regime tentou manter estabilidade enquanto respondia às demandas por liberdade política. A repressão ainda era presente, mas gradualmente diminuía, abrindo espaço para negociações e reformas. O autor explora a complexidade das relações entre militares e sociedade civil nesse período. As decisões políticas eram guiadas tanto por pragmatismo quanto por pressões externas e internas.
O papel das eleições indiretas e da Assembleia Nacional é detalhado, demonstrando como o regime controlava a sucessão presidencial. Gaspari enfatiza o uso de leis, emendas e mecanismos institucionais para conduzir a abertura de forma ordenada. Ao mesmo tempo, movimentos sociais e partidos da oposição organizavam campanhas e pressionavam por mudanças democráticas. A tensão entre abertura política e manutenção do poder militar é uma constante na narrativa. Esse período estabelece as bases para a transição democrática no Brasil.
A obra também aborda o contexto internacional, mostrando como a pressão externa, especialmente de organismos financeiros e governos estrangeiros, influenciou decisões econômicas e políticas. Gaspari relaciona a crise do petróleo, a dívida externa e a dependência do capital internacional com a fragilidade do regime. A necessidade de modernização econômica e integração global acelerou processos internos de democratização. A influência de fatores externos é apresentada como decisiva na condução da política brasileira.
O autor detalha casos de repressão, censura e tortura, mas enfatiza que o regime buscava reduzir o confronto direto diante do aumento da mobilização social. A narrativa evidencia a estratégia de contenção e manipulação da opinião pública para evitar instabilidade. O livro mostra como a repressão deixou de ser o instrumento central do controle político, sendo substituída por medidas administrativas e negociações políticas. Gaspari descreve o uso inteligente do poder como ferramenta para manter o regime enquanto se aproximava do fim.
O papel da sociedade civil e de líderes políticos é destacado como essencial para a construção da democracia. Movimentos estudantis, partidos de oposição e lideranças civis pressionaram por reformas, eleições diretas e liberdade de imprensa. Gaspari evidencia a combinação de pressões internas e externas que tornou o colapso do regime inevitável. A transição foi marcada por acordos, concessões e concessão gradual de direitos políticos. O autor mostra que a democracia emergiu não apenas da resistência popular, mas de estratégias políticas calculadas.
Por fim, A Ditadura Acabada apresenta uma reflexão sobre o fim do regime militar, a consolidação da democracia e os desafios enfrentados durante a transição. Gaspari oferece uma visão detalhada das negociações, pressões e estratégias políticas que moldaram o Brasil contemporâneo. O livro enfatiza o caráter gradual da abertura, mostrando que a democracia não surgiu de forma repentina. A obra é essencial para compreender os mecanismos de poder, resistência e transformação política no país. Ela conecta história, política e sociedade em uma análise profunda do período.

