O Livro de Enoc é uma antiga obra religiosa judaica atribuída a Enoc, o bisavô de Noé. Embora não seja parte do cânon bíblico tradicional da maioria das tradições judaico-cristãs, é um texto significativo e influente, especialmente nas tradições etíope e ortodoxa. O livro é dividido em várias seções, cada uma tratando de diferentes temas, incluindo a queda dos anjos, visões apocalípticas e revelações cósmicas.
A primeira seção, conhecida como o “Livro dos Vigilantes”, narra a história dos anjos que desceram do céu e se misturaram com os humanos. Esses anjos, chamados de Vigilantes, ensinam aos humanos conhecimentos proibidos e, ao se unirem a mulheres humanas, geram uma raça de gigantes chamada Nephilim. Esses seres causam grande destruição na Terra, levando Deus a enviar o dilúvio para purificar o mundo. Enoc é escolhido por Deus para ser um intermediário, recebendo visões e mensagens para transmitir aos humanos.
A segunda seção, o “Livro das Parábolas”, contém uma série de visões apocalípticas e proféticas. Enoc descreve a vinda de um Messias e o julgamento final dos ímpios. Esta seção apresenta conceitos importantes como a ressurreição dos mortos, a existência de um reino celestial e a ideia de um julgamento final, onde os justos serão recompensados e os ímpios punidos. Esta parte do livro tem influências significativas na literatura apocalíptica posterior.
O “Livro Astronômico”, ou “Livro das Luminares Celestes”, é a terceira seção. Aqui, Enoc descreve suas visões dos céus e dos movimentos das estrelas, do sol e da lua. Este livro é uma tentativa de explicar os fenômenos astronômicos através de uma perspectiva teológica. Ele detalha o calendário solar, lunar e os portais pelos quais as estrelas entram e saem do céu. Esta seção reflete um interesse pela cosmologia e pela compreensão dos mistérios do universo.
A quarta seção é o “Livro dos Sonhos”. Enoc relata uma série de visões e sonhos que teve, os quais oferecem uma recapitulação simbólica da história do mundo, desde a criação até o reino messiânico futuro. As visões são apresentadas em forma de alegorias e parábolas, utilizando animais para representar diferentes nações e povos. Este livro reforça a ideia de que a história é dirigida por um plano divino.
O “Epístola de Enoc”, a quinta e última seção, é uma série de exortações e ensinamentos morais. Enoc adverte contra a corrupção e a injustiça e chama os justos a perseverarem na fé. Ele descreve recompensas e punições no além, sublinhando a importância da justiça e da retidão na vida terrena. Esta seção também aborda temas de escatologia, profetizando o destino final da humanidade e a renovação do mundo.
O Livro de Enoc, como um todo, oferece uma visão rica e complexa da teologia judaica antiga, abordando temas de angelologia, demonologia, cosmologia e escatologia. Embora não faça parte do cânon bíblico oficial, sua influência pode ser vista em várias tradições religiosas e literárias posteriores, incluindo o cristianismo primitivo. Enoc é retratado como um profeta e visionário, cuja missão é revelar os mistérios do céu e advertir a humanidade sobre o julgamento divino iminente.