“O Uraguai”, escrito por Basílio da Gama em 1769, é um poema épico que aborda a resistência indígena contra as forças coloniais no sul do Brasil, explorando o conflito entre os missionários jesuítas, os índios guaranis e as forças luso-espanholas. A obra é especialmente conhecida por seu caráter nacionalista, destacando aspectos da paisagem e da cultura locais, e pela crítica aos jesuítas, refletindo o contexto histórico das reformas pombalinas e a expulsão dos jesuítas dos territórios portugueses.
Dividido em cinco cantos, o poema inicia com a chegada do comandante português Gomes Freire ao território dos guaranis, onde ele pretende acabar com o controle dos jesuítas sobre os indígenas. Nesse cenário, Basílio da Gama constrói uma narrativa que apresenta personagens indígenas heroicos, como Cacambo e Lindóia, que se destacam pela coragem e nobreza de espírito. Cacambo, um dos líderes indígenas, luta para proteger sua comunidade, enquanto Lindóia é uma jovem guarani que acaba se sacrificando diante da invasão, representando o sofrimento do povo indígena diante do avanço colonizador.
A crítica aos jesuítas é um dos temas centrais da obra. Basílio da Gama retrata os missionários como manipuladores e ambiciosos, interessados mais em exercer o controle sobre os indígenas do que em sua evangelização e bem-estar. Com isso, “O Uraguai” traz uma crítica ao poder religioso e suas influências na política da época, espelhando as visões anti-jesuíticas que ganharam força com o Marquês de Pombal, que, na época, buscava enfraquecer a Companhia de Jesus e consolidar o poder real sobre os territórios coloniais.
Além do conteúdo ideológico, “O Uraguai” é notável por seu estilo. Basílio da Gama utiliza versos livres, diferindo da estrutura rígida de outros épicos da época, e oferece descrições vívidas da flora, fauna e geografia do sul brasileiro, ressaltando a exuberância e a diversidade da região. A obra é rica em imagens e figuras de linguagem que exaltam a natureza e os elementos locais, buscando valorizar o ambiente brasileiro e criando um contraste com as obras europeias.
No desenlace, após uma série de batalhas e conflitos internos, os guaranis acabam derrotados, e a missão é destruída, simbolizando a perda da autonomia indígena frente ao poder colonizador. “O Uraguai” termina de maneira trágica, mas oferece uma reflexão sobre os valores de liberdade e resistência. Embora o poema aborde uma derrota, ele se apresenta como uma homenagem à luta dos guaranis e uma crítica aos abusos do poder religioso e militar da época.
Como obra literária, “O Uraguai” é um marco do arcadismo brasileiro, destacando-se pela valorização do indígena e pelo posicionamento crítico frente às instituições coloniais. Ele permanece um importante registro dos conflitos e tensões que marcaram o Brasil colonial, unindo elementos históricos, estéticos e ideológicos em uma narrativa que busca redefinir a identidade cultural da nação.