“Seminário dos Ratos” é um conto de Lygia Fagundes Telles, publicado em 1977, que se destaca pela crítica social e pela alegoria em torno das questões de poder, corrupção e opressão. Sem enredo, Lygia cria um cenário surreal onde um seminário governamental é interrompido por uma infestação de ratos. Os delegados e altos representantes de diversas áreas do governo, reunidos para discutir questões de grande relevância, veem-se confrontados pela presença crescente e ameaçadora dos roedores, que tornam o local insustentável.
À medida que os ratos invadem o espaço do seminário, os personagens vão reagindo de maneiras diversas, refletindo uma variedade de posturas que as pessoas podem assumir em situações de crise. As respostas vão desde o desprezo, a negação da realidade, até tentativas de soluções improvisadas e ineficazes. A narrativa ressalta a incompetência e a inércia das autoridades, incapazes de lidar com a situação de forma substancial, enquanto o problema só aumenta.
A infestação de ratos serve como uma metáfora poderosa para os problemas sociais e morais que assolam a sociedade e que são frequentemente ignorados pelos governantes, mesmo quando atingem proporções alarmantes. A crescente presença de ratos funciona como um reflexo do descaso e da corrupção, questões sempre atualizadas na realidade política brasileira e mundial. Lygia usa esses roedores para simbolizar as mazelas que, muitas vezes, preferimos ignorar, mas que ocasionalmente se tornam visíveis e impossíveis de controlar.
Ao longo do conto, Lygia também explora o impacto psicológico da invasão, revelando o desespero e a manipulação das figuras de poder diante de uma ameaça incontrolável e, em última análise, revelada. Ao recorrer a elementos do realismo fantástico, ela construiu uma atmosfera de tensão e desconforto, criando uma crítica acentuada ao autoritarismo e à ineficiência das instituições.
O final da história é tão inesperado quanto provocador. A impotência dos governantes diante dos ratos sugere que problemas estruturais não podem ser solucionados com medidas superficiais e que a indiferença pode levar a um caos generalizado. “Seminário dos Ratos” é uma narrativa que revela, com humor ácido e sarcasmo, as falhas de uma sociedade em decadência, causadas pela negligência e pela falta de ética.
Lygia Fagundes Telles, em sua obra, construiu uma crítica atemporal à sociedade e ao comportamento humano diante das crises, mostrando que muitas vezes os maiores perigos são aqueles que negamos e preferimos não enxergar.