“Órfãos do Eldorado” , de Milton Hatoum, é um romance fascinante que explora temas como amor, perda e identidade, ambientado nas paisagens misteriosas da Amazônia. A história segue Arminto Cordovil, um homem atormentado pelo passado e por um amor impossível. Arminto retorna a Manaus após a morte de seu pai, um rico comerciante, e acaba revisitando suas memórias e suas próprias escolhas, enquanto a cidade e o rio parecem ocultar segredos profundos.
Arminto é um personagem complexo e introspectivo, que vive entre a herança deixada por seu pai e a busca por uma verdade mais profunda sobre sua vida e seus sentimentos. Ele se apaixona por Dinaura, uma mulher enigmática que encarna tanto a beleza quanto o mistério da selva amazônica, conduzindo-o a uma jornada de autodescoberta. Dinaura torna-se o símbolo do amor e do desejo que ele não consegue alcançar, uma figura quase mítica que o prende entre a realidade e a fantasia.
A Amazônia, descrita com a habitual riqueza de detalhes de Hatoum, não é apenas cenário, mas um personagem sinalizado que influencia o destino de Arminto. A exuberância da floresta, o fluxo constante dos rios e o ambiente de Manaus criam uma atmosfera onde os sonhos e as memórias se misturam, refletindo a natureza do protagonista e seu estado de espírito. Hatoum utiliza essa ambientação para fortalecer o conflito entre o real e o imaginário, algo que permeia a narrativa.
A obra também lida com o peso das expectativas familiares e o legado deixado pelos ancestrais. Arminto sente-se preso entre a figura autoritária de seu pai e sua própria vontade de fugir de uma vida herdada. Essa luta entre cumprir o destino traçado e buscar um novo caminho reflete o conflito universal entre tradição e modernidade, especialmente em um lugar tão rico em cultura e história como a Amazônia.
“Órfãos do Eldorado” é, em última análise, uma história de desilusão e saudade. Hatoum cria uma narrativa profunda e poética, onde o passado e o presente se entrelaçam, e o amor, embora fugaz, molda o protagonista para sempre. O romance é uma meditação sobre os mistérios da vida e da natureza humana, onde o autor, com sua prosa lírica e evocativa, transporta o leitor para o coração da floresta e para as profundezas do coração humano.